segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

domingo, 30 de dezembro de 2007

África - Sebastião Salgado


Hoje fui à Livraria Saraiva no Iguatemi. A opção pelo shopping era pra combater um pouco o calor do segundo domingo de verão que, após o almoço, marcava 36°.
A loja, que passou por uma reforma recentemente, ficou muito mais bonita e organizada, de modo que tudo se encontra com mais facilidade, no modelo de 'auto-servimento'.

Logo na entrada me deparei com um livro-álbum do fotógrafo brasileiro
Sebastião Salgado - África.
Como ali é permitido e sendo esse mais um dos atrativos da loja, ousei folhear aquela obra de arte cuidadosamente colocada em exposição. O texto de Mia Couto, na introdução, já antecipa alguns possíveis sentidos para o livro. Na sequência, as imagens que condensam em si muitos dos capítulos da história oficial, duramente marcada na carne e nas mentes daquelas pessoas, são emblemáticas.
Não deve haver outro lugar, senão naqueles corpos e ali naquele livro, onde essa história esteja tão verdadeiramente revelada.
Homens. Mulheres. Crianças. Idosos. Tanto sofrimento e tanta ausência de direitos nas tantas vidas que foram e ainda são negadas.
Encantada com as imagens mas leiga nos processos e recursos usados na arte da fotografia, as questões que me assaltavam eram de outra natureza: Será que a vida ali vale menos? Será que a dor dói menos?
Folheei mais algumas páginas e faltou coragem. Senti o 'nó na garganta', as lágrimas ameaçaram, fechei o livro.
Entretanto, apesar de provocar sentimentos como revolta e tristeza, evidenciar o tratamento banal que durante anos tem sido dado à vida, a genialidade do artista nos protege: ao mesmo tempo em que traz à tona a crueldade da história feita por homens contra os próprios homens, ele possui a sensibilidade de desvelar nos olhares daquelas pessoas a dignidade e o orgulho por serem quem elas são.





África, de Sebastião Salgado
Taschen, 336 pp, capa dura,

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Benazir



Não aponte o dedo
para Benazir Bhutto
seu puto
ela está de luto
pela morte do pai
não aponte o dedo
para Benazir

esse dedo em riste
esse medo triste
é você

Benazir, resiste
o olho que existe
é o que vê

Composição: Chico Cesar

Planejando 2008.


Aninha e suas pedras
Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces.
Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha um poema.
E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede.

Cora Coralina
(Outubro, 1981)

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Pouco a pedir, muito a agradecer.


"Tudo o que eu precisava realmente saber aprendi no
Jardim-de-infância"

O texto é maravilhoso e tomo a liberdade de adicionar mais um aprendizado: momento de agradecimento, antes das refeições.
E assim fizemos, na ceia de Natal, tal e qual fazemos na escola:
-"Papai do céu, muito obrigada pelo lanchinho que vamos comer. Bom apetite. Amém"

"Papai Noel, neste Natal eu queria te pedir..."

"Para mim, a chuva no telhado é cantiga de ninar.'
Essa música é de um tempo em que os meus ideais de solidariedade, igualdade e fraternidade, ingenuamente me comoviam e me mobilizavam para mudar o mundo muito mais do que hoje.
Em tempos atuais, nessa época, sobretudo, no momento de preparar as comidas natalinas, penso nos menos favorecidos e naqueles que não têm mesmo o que comer. Esse pensamento me incomoda (fazendo aqui o 'mea culpa') porque me oriento por alguns princípios, defendo alguns valores, contudo, à medida em que o tempo passa
as minhas ações individualizadas na luta diária pela sobrevivência, me distanciaram daqueles ideais coletivos.
Ontem pela manhã, em conversa com um amigo de Portugal (Santarém) veio a pergunta inevitável (e até leviana, confesso) sobre como havia sido a sua Noite de Natal.
Ele, que viveu a infância em Angola, seu país de origem, respondeu que foi normal; criticou o consumo exagerado dessa época e lamentou a situação de muitas pessoas que 'não têm um prato de sopa para tomar'.
Entretanto, ele disse isso sem especificar em que cidade, em que país e tanto ele quanto eu sabemos que esse é um problema mundial, portanto não se faz necessário dar nomes porque a fome não tem identidade.
A nossa conversa rolou em torno disso, com a idéia transitando entre a ação, o fracasso, a queixa que paralisa, a impotência real, as responsabilidades, as desculpas verdadeiras, etc. O assunto ia orbitando nas instâncias macro e micro, sobre o que nos compete fazer no nosso universo que possa vir a mudar algo sem que isso represente uma maneira de responsabilizar os 'outros'.
Atrevemo-nos a dizer(!) o que compete e a quem compete fazer para mudar esse quadro no macro sistema. Nosso exercício foi longe. Nos colocamos no lugar de políticos e apontamos a corrupção como a possível causa dos governos mal sucedidos, mas ambos sabemos que a crise é mais moral, de (des)valorização da vida e menos, muito menos político-partidária.
Hoje (enquanto procurava receita de rabanada na internet para aproveitar sobrinhas de pão), dentre tantas informações e dados sobre como foi o feriado de Natal, chamou a minha atenção a notícia que tratava do tema abordado ontem com meu amigo.
No Brasil os índices apontam explosão no consumo, mas o que enganosamente poderia nos conduzir à idéia de crescimento do país (como explicar o contraponto?), nas cartinhas endereçadas ao Papai Noel, coletadas pelos serviços de Correios, em muitas delas os pedidos eram apenas de...
comida.

A reflexão 'pós Natal' que deixo aqui hoje(dia de queimar as calorias adquiridas pelo excesso de consumo dos comes-e-bebes) é de que vale a pena fazer uma pausa, respirar fundo e pensar que ainda é possível reescrever as histórias dos remetentes das cartinhas que virão.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

sábado, 22 de dezembro de 2007

Caminho alternativo.

Vi hoje, pela segunda vez o filme 'Yossi e Jagger' - Delicada Relação, do diretor Eyton Fox.
Uma doçura esse filme. É a demonstração do amor num espaço de grande tensão político-religiosa e cultural.
Um momento marcante é quando a mãe confessa que não conhecia o filho, não sabia de suas preferências e de qual era sua música favorita. Acho esse momento muito duro. Deixo aqui o clip da música que é tema do filme.

"Quem inventou o amor, diga por favor"...(Renato Russo)
"Aqueles que passam por nós,
não
vão
sós,
não
nos
deixam
sós.
Deixam um pouco de si,
levam
um
pouco
de
nós."

Antoine-Jean-Baptiste-Marie-Roger Foscolombe de Saint-Exupéry


sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Amanhecemos mais pobres.

Roubo no MASP
Chatice essa, do roubo das duas obras: um Portinari e um Picasso

Ousadia de uns, negligência de outros, ambição...vaidade, cultura, capital...
Lamentavelmente uma ação dessas priva o coletivo de um bem; se a arte perde, a cultura empobrece e todos perdemos.
Penso sobre essas grandes obras, renomadas, clássicas, patrimônio da humanidade.
Será fácil manter isso 'escondido', camuflado?
Tomara que não.

"Todos somos escritores, uns escrevem, outros não." (José Saramago)

Todos somos escritores.
Este fragmento me remete às tantas possibilidades de escrita que estão constamente sendo gestadas na fugacidade dos pensamentos: numa diversidade que transita pelas imagens, pelas formas, pelos conteúdos, pelos recursos, dialogicamente entre complexidade e simplicidade, simbolizando as múltiplas maneiras de organizar os olhares lançados sobre a realidade.
Uns escrevem:
Quem são os que escrevem? Usam a escrita como a representação de um código? Usam a escrita para expressar uma idéia? Podem ser de vários universos?
Outros não:
Quem são os que não escrevem? Ainda não foram mobilizados para o sentido de que podem ler o mundo e registrar suas histórias através das letras?
Tantas possibilidades que por não terem sido reveladas, permanecem adormecidas dentro de mentes e de mãos de pessoas que por qualquer motivo não foram mobilizadas para esse prazer;
Quantas histórias que poderiam ter sido escritas e ainda não foram...
Que circunstâncias afastaram esses escritores de poderem vir a ser 'escritores que escrevem'? De que oportunidades foram eles privados, para essa emancipação? A realidade da vida? A dura luta pela sobrevivência? Não frequentaram escolas?
Há os que passam pela escola e lêem, sem saber o sentido: decodificam, soletram, amontoam letras, sílabas, palavras, sem lhe atribuir valor e ainda recebem a incumbência de carregar pra sempre, sob o verniz do 'estudo', o peso de sua própria incompetência.
Há tanta potência nessa frase como flores que ainda não desabrocharam, telas ainda não pintadas, músicas ainda não cantadas, danças ainda não dançadas...
Nossa responsabilidade de educadores e cidadãos está em lançar luz para que eclodam essas sementes adormecidas no interior de cada criança, de cada pessoa e fazer de todas elas, escritores que escrevam, leitores que leiam, cantores que cantem, dançarinos que dancem, pintores que pintem...e mais... muito mais.
Tarefa fácil não é (senão a frase não teria sido escrita), mas é possível.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Sobre gente, bichos e plantas.

Depois de dez horas corridas na escola, finalmente cheguei em casa. Das dez horas, pelo menos nove foram em frente ao computador, editando os textos finais das avaliações.
Merecemos, portanto novas imagens...
Trabalhar nessa escola é muito bom, não só porque sinto que sou benvinda e acolhida, mas ali há uma cumplicidade e uma amizade que não se têm em outro lugar, seja pelas companhias que são muito agradáveis, seja pela relação profissional que é baseada no respeito mútuo. Tenho admiração por esta equipe e orgulho por fazer parte dela.
Falar daquele espaço privilegiado tira dos meus olhos o cansaço porque traz as imagens da natureza exuberante que tem ali: flores (camélia, hibisco, lírio, orquídea, girassol); árvores frutíferas (jambo, abacate, acerola, ameixa, tamarindo, jatobá, jaboticaba, romã, manga); árvores raras como a 'ceboleira' ou em extinção, tombada e preservada, como o anjico branco; nobres como o mogno; famosas como o pau-brasil(doadas numa época em que se buscava recuperar um pouco o sentido de pátria, de nação desde a infância); o ipê amarelo, árvore símbolo do Brasil, o ipê roxo, o ipê rosa; outras grandiosas como a figueira (falsa seringueira), o flamboyant, que tem mais de um exemplar e aquela meio mãe, cuidadosamente de guarda ao lado do tanque de areia, dando sombra e proteção ao brincar: o chapéu-de-praia;
Tem a horta, ou teve, porque se renova sempre, com o amendoim que as 'crianças' da Rose plantaram, o milho das turminhas da Ângela, da Renata e da Marisa; as verduras das turminhas da Luz, da Regina e da Maria José.
Crianças que afagam a terra, que plantam, que cuidam, que regam, que colhem e fazem saladinha de verdade, e comem, claro!!
O espaço é amplo, tem muito mais. Os animais: patos, galinha d'Angola, galinhas caipiras, garnizés e coelhos que são os favoritos e que mais interagem com as crianças.
Tem ainda o nicho do 'bambuzal', remanescente de um tempo em que toda aquela região era repleta de taquaras e a isso se deve o nome do bairro vizinho - Taquaral.
O dia corre no canto dos pássaros, no canto do galinho garnizé que sobe na pedra (aquela, com a placa do nome da escola), faz pose e emite um canto que os desavisados poderiam jurar que ele tem três vezes mais o seu tamanho. Ali tem até um predador: um gambazinho que só aparece em dia de chuva e nos dias de muito silêncio, quando não tem aula (sabidinho!!). A lei da natureza impera nesses dias e ele, o gambazinho, sequer toma conhecimento da relação afetiva que temos com os coelhinhos filhotes... precisa dizer mais?

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Mais um dia de Avaliação do trabalho anual...

Foi cansativa, mas valeu. Agora, acabei a bateria das avaliações das três escolas.
Depois, revelação do amigo secreto. A minha amiga e eu éramos secretas já há três anos porque nunca nos encontrávamos: brincamos de 'gato e rato' o ano todo, ela com duas escolas e eu com três.
Pra completar a festa, almocinho no 'Brasa D'oro', com boa conversa e muito riso.
A minha avaliação é geral para as três escolas: sentimento desconfortável, com as lacunas que a gente deixa por não acompanhar o trabalho no cotidiano... hoje aqui, amanhã ali, depois de amanhã, lá...e assim vai, e assim foi... mas chateia.
Dadas as condições de trabalho, acho que nunca farei uma avaliação plena, com o sentimento de 'dever cumprido'. Por outro lado, alguns ganhos foram apontados: os três grupos têm muito potencial de formação. Muita gente sedenta em explorar recursos internos, refletir sobre o trabalho, pensar sobre o desenvolvimento de cada criança... socializar, registrar e se fortalecer nas suas convicções. Ainda bem. Tem muito cartucho pra queimar.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Frustração e elogio...

Olás!!!Semaninha começando já com certa frustração. Talvez o esquema de troca de escolas via remoção não seja possível; Dúvida: o sistema 'não entende' que eu e a Dri queremos apenas trocas as escolas? Seria tão simples. Viva a tecnologia, que muitas vezes se coloca entre nós e os nossos quereres!! Aguardando...
Lado bom do dia: recebi um 'scrap' de uma professora de uma das 'minhas' escolas me agradecendo pelo trabalho desse ano. Vou estender o elogio a todas, porque elas sempre me emocionam. São maravilhosas, cheias de recursos e de efeitos especiais. O que eu tenho feito é apenas oportunizar que eles venham à tona.
Besinhos, Loura!!

domingo, 16 de dezembro de 2007

Hoje é domingo, pé-de-cachimbo!

"...e não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;"
(João Cabral de Melo Neto)


...E a vida homenageia Oscar Niemeyer que completou 100 anos ontem.
Reservo, na simplicidade desse espaço, a divulgação do site da fundação que trata da vida e obra desse gênio da arquitetura brasileira.
Aclamado dentro e fora do Brasil, Oscar Niemeyer[http://www.niemeyer.org.br/] elabora em suas obras um diálogo com a nossa cultura, nossa geografia, nosso povo e, nessa interatividade, registra e consolida a história da nossa sociedade.
Finalizo com a poesia não menos magnífica de João Cabral de Melo Neto:
"Fábula de um arquiteto"
"A arquitetura como construir portas de abrir;
ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e teto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde,
jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.

Bom domingo a todos e todas!!

sábado, 15 de dezembro de 2007

Resuminho da Semana

Segunda-feira: Só vou comentar a segunda parte do dia: fui conhecer minha futura escola; se tudo der certo com nosso esquema, Dri e eu trocaremos, no concurso de Remoção, nossos 'campos'. Já na escola, foi bom visitar aquele espaço e abrir novas perspectivas para 2008. Ter estado ali me levou também a refletir sobre o que andei fazendo nesses três anos que estive na Educação Infantil, pela qual tenho imenso carinho...e tentar acrescentar ao rol de motivos, mais alguns, pra que eu entenda melhor o porquê quero mudar... No fundo, eu sei parte dessa resposta: quando me bate o vento norte...
Rancho Oásis
http://www.jaguariuna.sp.gov.br/setuc/acervo_fotos.php?id=36&tit=Rancho%20Oasis
Na terça, acompanhei a Débora e seus 10 anjinhos ao Rancho Oásis; D Marta também foi conosco, sempre atenta e a que mais entende a língua deles. A viagem foi tranquila e as crianças aproveitaram muito, desde a saída da escola. Os olhinhos brilharam, as mãos tocaram as peles, os pêlos, as penas, correram das cabras e atrás delas, subiram, desceram, deram comida aos pôneis e aos cavalos, saltaram na cama elástica, perguntaram, observaram, enfim, diversão e aprendizado pra nós todos.Ênfase no Victor, meu assistente direto para assuntos da horta, que era o mais atento ao trabalho dos homens e das muitas ferramentas espalhadas pelos cantos, denunciando que estão fazendo melhorias em vários locais. Obrigada à Tânia que nos recepcionou e nos acompanhou em todas as atividades.No retorno, alguns até babaram de dormir. O Bernardo foi o primeiro, com o que restou do algodão doce na mãozinha.
Chegando em casa eu queria contar todos os detalhes para os filhotes...mas falei o essencial e fomos à locadora pegar vídeos: Provocacão, V de Vingança, Dejavú que não vi!!
Nos outros dias, muito trabalho com reunião na sexta e almoço de confraternização da EMEI "Dr. Mario Gatti". Final de sexta: mais reunião - agora na escola do filho: APROVADO. Nem eu nem ele tínhamos dúvida disso, mas fui confirmar pra desencargo de consciência. Depois, passeio em família, Lari, Leandro (Baby) e eu, na Feira de Artes e Artesanato da Praça do Centro de Convivência
http://www.aquatelier.ppg.br/feiraccc/index.html; 'comes' na praça, a SOPA maravilhosa do Pão de Açúcar e pra finalizar, ida ao D. Pedro http://www.parquedpedro.com.br/mainsite/common/default.aspxcomprar o presente da Gi.
Por que no D. Pedro? 'Japan Society' só tem lá, camiseta exclusiva pra GI. Mais comes no 'Amor aos pedaços', bala...chocolate branco...ai, meu regime!
Hoje vou caminhar, vou sim!!

O sal da língua

Escuta, escuta: tenho ainda uma coisa a dizer.

Não é importante, eu sei, não vai salvar o mundo,

não mudará a vida de ninguém - mas quem é hoje capaz de salvar o mundo

ou apenas mudar o sentido da vida de alguém?

Escuta-me, não te demoro.

É coisa pouca, como a chuvinha que vem vindo devagar.

São três, quatro palavras, pouco mais.

Palavras que te quero confiar,

para que não se extinga o seu lume, o seu lume breve.

Palavras que muito amei, que talvez ame ainda.

Elas são a casa, o sal da língua.

(Eugenio de Andrade , poeta português)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Exercícios de ser criança - O menino que carregava água na peneira

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água. O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos. Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio. Falava que os vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito porque gostava de carregar água na peneira. Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu que era capaz de ser noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras. Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens. Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios. Até fez uma pedra dar flor! A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.Você vai encher os vazios com as suas peraltagens e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos.
(Manoel de Barros - escritor brasileiro)

Água.

Quem prende a água que corre
É por si próprio enganado;
O ribeirinho não morre,
Vai correr por outro lado.
António Aleixo, poeta português

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Mudanças...


Uma nova mulher está em processo: na aparência, no trabalho, no amor... e mais. Veremos o que nos reserva 2008!