terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

"A gente tem fome de quê..."


Uma pesquisa realizada em alguns países da América do Sul, revela algumas demandas dos jovens quanto às políticas públicas para a juventude. A principal delas, apontada como a de maior relevância é a educacional. Medidas para garantir o acesso não têm dado conta da permanência e do sucesso escolar, apontando que há uma seletividade no interior da escola devido à forma de organização dos tempos, da grade curricular e da pouca flexibilidade existente na estrutura educacional, o que acaba impelindo para a evasão por não alcançarem desempenho esperado compatível.
A inclusão digital e o uso das novas tecnologias, mas sobretudo o grau de proximidade que deve haver entre a escola e o mercado de trabalho são apontados como indicadores de qualidade.
A continuidade dos estudos, para além da educação básica, garantindo a sequência à vida escolar, com ensino médio, cursos técnicos e acesso à universidade, pública e gratuita também foram apontados.
Para os jovens que já estão no mercado de trabalho, as solicitações são de maior adequação da vida escolar às condições de vida, à maternidade e ao trabalho.
Muitos abandonam a escola por falta de condições, de meios de transporte e por não ter como conciliar os tempos de trabalho, escola e maternidade. Medidas simples como a flexibilização da grade curricular e de horários, aparecem como sugestões.
Outras demandas foram apontadas como: direito à cultura, respeito à diversidade, segurança e a educação ambiental.
Em síntese: os jovens querem uma escola que 'caiba na vida'.
A nós, educadores, cabe a responsabilidade em planejar ações para que, dentro da nossa esfera de atuação, os direitos sejam exercidos plenamente.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O beijo.


Homenagem aos amantes pelo dia de ontem. (O Beijo - escultura em mármore do artista francês Auguste Rodin.)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Semana de 22.


13 de fevereiro de 1922 - Dava início a semana de Arte Moderna no Brasil. É sem dúvida um divisor de águas entre o que era - arte da elite cosmopolita, da política do café-com-leite, do início do capitalismo no Brasil - para o que queriam que fosse os articuladores desse processo, os artistas de diferentes áreas, como Anita Malfatti e Di Cavalcanti, na pintura, Oswald de Andrade na literatura, Heitor Vila-Lobos na música, Brecheret na escultura, dentre outros, que deram suas contribuições para a renovação do espírito e da identidade da arte brasileira. Pra ilustrar esse movimento, escolhi 'A BOBA' de Anita Malfatti, que talvez tenha sido a mais incompreendida dentre eles. Obra maravilhosa.

Neologismo.

Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.
(Manuel Bandeira)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Tão grande dor

Timor fragilíssimo e distante
«Sândalo flor búfalo montanha
Cantos danças ritos
E a pureza dos gestos ancestrais»

Em frente ao pasmo atento das crianças
Assim contava o poeta Ruy Cinatti
Sentado no chão
Naquela noite em que voltara da viagem


Timor
Dever que não foi cumprido e que por isso dói
Depois vieram notícias desgarradas
Raras e confusas
Violência mortes crueldade
E ano após ano
Ia crescendo sempre a atrocidade
E dia a dia - espanto prodígio assombro -
Cresceu a valentia
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha


Timor cercado por um muro de silêncio
Mais pesado e mais espesso do que o muro
De Berlim que foi sempre tão falado
Porque não era um muro mas um cerco
Que por segundo cerco era cercado
O cerco da surdez dos consumistas
Tão cheios de jornais e de notícias


Mas como se fosse o milagre pedido
Pelo rio da prece ao som das balas
As imagens do massacre foram salvas
As imagens romperam os cercos do silêncio
Irromperam nos écrans e os surdos viram
A evidência nua das imagens.

(Sophia de Mello Breyner Andresen )

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Arte para evocar II

Novo local de trabalho. Reuniões de organização e planejamento do ano letivo de 2008...(isso não tem nada de novo). Nas primeiras reuniões retomamos os temas avaliados no final de 2007. Dentre os seis princípios afirmados no Projeto Pedagógico, um deles se refere ao tema arte e é nele que pretendo me debruçar e elaborar uma reflexão mais aprofundada nos encontros semanais no primeiro trimestre: "Valorização da arte como forma de expressão". Um projeto de escola que se oriente por esse princípio, ou dentre outros que ele esteja contemplado, deverá ter alguns pressupostos. Assim, saber como cada um tem se posicionado até então em favor dessa discussão, da elaboração do próprio trabalho e do trabalho coletivo, penso que será um caminho para identificar e dar visibilidade aos pressupostos (algumas ações já foram elencadas no trabalho desenvolvido com teatro, tendo o aluno alternando papéis entre protagonista e platéia). Conhecer o que as pessoas pensam sobre o tema, me parece um bom ponto de partida para o desenvolvimento desse trabalho. Então fiz uma ponte com algo que li recentemente sobre 'arte para evocar'. O que poderia ser a arte para evocar? Evocar, do latim - evocare; Chamar (alguém) para fora do lugar onde está (Dic. Michaellis). O termo me provocou e gerou algumas inquietações. Dentro da perspectiva de que 'evocar' é chamar alguém para fora do lugar onde está, então deve ser muito bom servir-me da arte para esse fim. Evocar, portanto, pode ser um modo específico, um jeito singular de explorar, através da arte, o que o sujeito traz em si sobre o processo artístico/educacional para revelar a partir daí, como ele se pensa nesse processo e as possíveis transformação desse pensar, que é o caráter essencial da arte-educação.

A Varanda.

Mãe das recordações, amante das amantes,
Tu, todo o meu prazer! Tu, todo o meu dever!
Hás de lembrar-te das carícias incessantes,
Da doçura do lar à luz do entardecer,
Mãe das recordações, amante das amantes!

As tardes à lareira, ao calor do carvão,
E as tardes na varanda, entre róseos matizes.
Quão doce era o seu seio e meigo coração!
Dissemo-nos os dois as coisas mais felizes
Nas tardes à lareira, ao calor do carvão!

Quão soberbo era o sol nas tardes douradas!
Que profundo era o espaço e como a alma era langue!
Curvado sobre ti, rainha das amadas,
Eu julgava aspirar o aroma de teu sangue.
Quão soberbo era o sol nessas tardes douradas!

A noite se adensava igual a uma clausura,
E no escuro os meus olhos viam-te as pupilas;
Teu hálito eu sorvia, ó veneno, ó doçura!
E dormiam teus pés em minhas mãos tranqüilas.
A noite se adensava igual a uma clausura.

Sei a arte de evocar as horas mais ditosas,
E revivo o passado imerso em teu regaço.
Para que procurar belezas voluptuosas
Se as encontro em teu corpo e em teu cálido abraço?
Sei a arte de evocar as horas mais ditosas.

Juras de amor, perfumes, beijos infinitos,
De um fundo abismo onde não chegam nossas sondas
Voltareis, como o sol retorna aos céus benditos
Depois de mergulhar nas mais profundas ondas?
- Juras de amor, perfumes, beijos infinitos!

(Charles Baudelaire)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Venho de Tempos Antigos


Venho de tempos antigos.

Nomes extensos: Vaz Cardoso, Almeida Prado,

Dubayelle Hilst... eventos.

Venho de tuas raízes, sopros de ti.

E amo-te lassa agora, sangue, vinho

Taças irreais corroídas de tempo.

Amo-te como se houvesse o mais e o descaminho.

Como se pisássemos em avencas

E elas gritassem, vítimas de nós dois:

Intemporais, veementes.

Amo-te mínima como quem quer MAIS

Como quem tudo adivinha:

Lobo, lua, raposa e ancestrais.

Dize de mim: És minha.

(Hilda Hilst)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Carnaval: saúde e direito, o profano e o sagrado.

Duas manchetes me chamaram a atenção no dia de ontem, em matéria divulgada pela agência brasileira Radiobrás. Enquanto uma delas tratava da distribuição gratuita de preservativos no Estado de São Paulo , com o objetivo de preservar a saúde dos foliões, além, é claro, de ser um método contraceptivo, a outra, no Estado de Pernambuco, dá conta de uma ação que 'emite parecer favorável à liberação da pílula do dia seguinte', no município de Recife , considerando ainda as demais ações que garantam a saúde plena da mulher.

A diversão carnavalesca brasileira está desde sempre, muito relacionada à sensualidade feminina, ressalvadas as devidas justificativas de que somos um 'país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza'. Mulheres lindas, verdadeiras esculturas desfilam de norte a sul, expondo cores, sabores e exalando odores, despertando sentimentos de diversas naturezas, dentre eles, o interesse do sexo oposto.

Estando as Secretarias dos referidos Estados preocupadas com a saúde da população em geral (e em específico da feminina também por causa da gravidez), através da prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e AIDS (DST/AIDS), cujo risco de transmissão se potencializa nessa época, intensificaram as ações de prevenção, com a distribuição de preservativos, folhetos explicativos e tantas outras medidas para assegurar que a alegria do carnaval perdure para os outros dias e os demais meses do ano, aos foliões e folionas.

A interpretação que faço, num comparativo das duas notas é de que, enquanto São Paulo demonstra que a saúde tem o caráter preventivo, não dá pra ter interpretação semelhante com a medida tomada em Recife, parecendo um pouco mais liberal, com a oportuna distribuição da tal pílula na época do carnaval. Seria a medida alusiva apenas ao direito da mulher sobre seu corpo? Corrijam-me, se eu estiver fazendo uma interpretação indevida.

Sugiro que leiam a nota detalhadamente, porque é rica, seja nos temas que são polêmicos em sua origem ou ainda nas diferentes interpretações que a matéria possibilita, mas à grosso modo, lançando luz na 'prevenção' (SP) e 'contracepção' (PE) os princípios, se não forem contraditórios, ao menos me parecem inconciliáveis.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Fim de semana.

Sabes que morro
Pelo fim de semana
morro de fome
pelo fim de semana
fome de sair
fome de te ver
fome de saltar
fome de te ter
fome de voar
Fome de cair
Fome de te amar
Para depois viver
(Xutos e Pontapés)

Adoro o fim de semana. É o oásis do 'vir-a-ser'.

"O homem viaja através do mundo em busca do que deseja e retorna ao lar para encontrá-lo." George Moore