quinta-feira, 30 de abril de 2009

Arco íris e o pote de ouro


Eu nunca pensei
Enquanto te esperava
Eu sempre te esperei
Mas você não chegava

http://vagalume.uol.com.br/nando-reis/para-quando-o-arco-iris-encontrar-o-pote-de-ouro.html
Imagem: http://br.olhares.com/arco_iris_urbano_foto712970.html

terça-feira, 28 de abril de 2009

Oh, abelha rainha!


A postagem de hoje é dedicada a um amigo distante, que trabalha nas Energias de Portugal.
Trata-se de uma receita caseira de repelente a insetos que divulgo para que outras pessoas tomem conhecimento e se beneficiem dessa dica.
Ele me contou que foi picado por abelha, na testa e próximo ao olho. Em decorrência disso, ficou com o rosto inchado e avermelhado por alguns dias, teve dor e desconforto local, além de mal estar.
É importante lembrar que correu riscos também: a picada de abelha pode ser fatal a quem é alérgico.
Então, aí vai a receita:
REPELENTE CASEIRO - Esta receita foi passada por pessoas de uma colônia de pescadores que nunca tiveram dengue ou 'afins'. Por ser natural, não intoxica e pode ser usado à vontade, basta misturar:
Uma garrafa de álcool;
Meio vidrinho de óleo para bebê ou similar (para não desidratar a pele);
Um pacote de cravo da Índia (mais ou menos 30 cravos) em infusão por algumas horas;
Está pronto um excelente repelente caseiro!
Os pescadores há muito tempo já conhecem esta mistura e usam sempre em suas noites de pescaria para evitar picadas de insetos. Uma prática barata e que pode salvar muitas vidas.
E quanto ao meu amigo, domador de ventos e mui querido, que por vezes, trabalha diretamente em contato com a natureza, aconselho para que leve sempre consigo um frasquinho. Dessa forma estará protegido contra as picadas de abelhas e de outros insetos.

Receita cedida pela amiga Sára.

Neoplatônica


a boca é o lugar onde se engendra

o silêncio e se proferem sentenças

de morte e colhem blasfêmias

e serpenteiam sortilégios

e se enfunam as flores da fala

até forjar a ficção de outra boca

de onde se extrai a idéia do beijo


Imagem: "O Beijo" - escultura do artista romeno Constantin Brancusi, 1910. A obra foi dedicada a uma amiga que se suicidou por amor.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Zeca Afonso

"A Palavra
é o som da Luz,
é a Luz
criando-se a si mesma:
toda a palavra
significa
Li
ber
da
de."

domingo, 26 de abril de 2009

...da natureza da ARTE


"[...] a verdadeira natureza da arte sempre implica algo que transforma, que supera o sentimento comum, e aquele mesmo medo, aquela mesma dor, aquela mesma inquietação, quando suscitadas pela arte, implicam o algo a mais acima daquilo que nelas está contido. E este algo supera esses sentimentos, elimina esses sentimentos, transforma a sua água em vinho, e assim se realiza a mais importante missão da arte."


VYGOTSKY, Lev Semenovitch. 1986-1934. Psicologia da Arte/L. S. Vigtski: tradução Paulo Bezerra. - São Paulo : Martins Fontes, 1999.
Imagem: Processo Criativo - janeiro 2009, por Larissa .

sábado, 25 de abril de 2009

Se...

Se tanto me dói que as coisas passem

É porque cada instante em mim foi vivo

Na luta por um bem definitivo

Em que as coisas de amor se eternizassem.

Poesia: Sophia de Mello Breyner Andresen
Imagem: Museu da Língua Portuguesa

sexta-feira, 24 de abril de 2009

A História Oficial




Estamos lendo e estudando nas aulas da professora Dra. Corinta. textos que nos vão dar subsídios para construirmos nosso paradigmas indiciários. No meu entender, elaborei uma definição: coletamos elementos que denotem e caracterizem uma época para que possamos identificar, dentro de uma leitura atual, uma visão mais aprofundada dos fenômenos que elegemos como objeto de estudo e as circunstâncias em que ele se desenvolve .
Assistir o filme 'A Histórial Oficial' foi uma das tarefas de casa, cujo objetivo era percebermos a transformação da professora no decorrer do filme. Ela, que, no início, demonstra uma postura bem dentro dos moldes de uma escola tradicional, vai aos poucos sendo a construtora da trama, na coleta de indícios e fragmentos que vão compor o seu 'quebra-cabeças' ou puzzle.
Muito me encantou rever o filme com esse foco na professora. A primeira vez que assisti, ele estava inserido num contexto sobre a ditadura na América Latina e eu tinha o olhar mais voltado para essas questões. Esse filme fez parte de um conjunto de livros e filmes em que eu procurava desvelar fatos que ocorreram nesse período, marcado pela obscuridade. Cito "O desaparecido" (Missing) e "Prá frente Brasil" (nesse, em especial, chamo a atenção para a cena de tortura onde um dos torturadores fala inglês, reforçando que as técnicas de tortura nos eram ensinadas pelos americanos) e os livros: A Face Oculta do Terror (A. J. Langgutt), Batismo de Sangue (Frei Betto) e 'O que é isso, Companheiro' de Fernando Gabeira.
O que me marcou agora, ao rever o filme, foi a expressão da Alícia, olhando para os alunos, quando percebe que, eles sim, é que tinham conhecimento da história (oficial); ela os olha como se os estivesse vendo pela primeira vez (e acredito que estivesse mesmo); revela, no modo de olhar, que está reelaborando as suas hipóteses(atitude muito comum às crianças e bem menos presente nos adultos) sobre a história, de tal forma, que me reportou a outro filme: Toy Story, quando da decepção do Buzzy- o astronauta, ao se perceber ser apenas um mero brinquedo. Esse momento pra mim é o marco, o ponto de partida por onde ela vai trafegar em busca da verdade que entrelaça a sua história de vida e a história política do país.

Participar dessas discussões está sendo de grande aprendizado, de enriquecimento profissional e pessoal.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Reminiscências...

"Não era possível que uma pessoa que me batera usasse agora uma voz tão doce e quase amiga. Achegou-se mais de mim e sem que ninguém esperasse, ajoelhou o corpo gordo e me fitou cara a cara. Tinha um sorriso tão suave que parecia espalhar carinho" .
"Aí eu me aproximei bem dele e encostei minha cabeça junto ao seu braço.
— Portuga
— Hum...
— Eu nunca mais quero sair de perto de você, sabe?
— Por quê?
— Porque você é a melhor pessoa do mundo. Ninguém judia de mim quando estou perto de você e sinto um “sol de felicidade dentro do meu coração”."
"Entretanto minha saudade era muito grande. O Portuga deveria estranhar a minha ausência e se ele soubesse realmente onde eu morava, era até capaz de me vir procurar. Fazia falta ao meu ouvido, à ternura do meu ouvido aquele jeito de falar meio carregado e cheio de “tu”."
"— Repita de novo a canção.
— É um tango da moda.
— “Eu quero uma mulher bem nua...”
Uma bofetada estalou no meu rosto.
— Canta de novo:
— “Eu quero uma mulher bem nua...”
Outra bofetada, outra, mais outra. As lágrimas pulavam dos meus olhos sem querer.
— Vamos, continua a cantar:
— “Eu quero uma mulher bem nua...”
Meu rosto quase não se podia mexer, era arremessado. Meus olhos abriam-se para se tornar a fechar com o impacto das bofetadas. Eu não sabia se devia parar ou se tinha de obedecer... (...)
Tomado de fúria, só então ele se ergueu da cadeira de balanço. Desabotoou o cinto. Aquele cinto que tinha duas rodelas de metal e começou a me xingar apoplético. De cachorro, de porcaria, de traste vagabundo, se era assim que falava do seu Pai.
O cinto zunia com uma força danada sobre o meu corpo. Parecia que o cinto tinha mil dedos que me acertavam em qualquer parte do corpo. Eu fui caindo, me encolhendo no cantinho da parede. Estava certo que ele ia me matar mesmo. (...) Ele jogou o cinto sobre a mesa e passou as mãos sobre o rosto. Chorava por ele e por mim.
— Eu perdi a cabeça. Pensei que ele estava caçoando de mim. Fazendo pouco caso."
Mas ela não sabia a revolução que se realizava dentro de mim. O que eu tinha resolvido. Iria mudar de filmes. Nada mais de filmes de cowboy, nem índio nem nada. Eu de agora em diante só iria ver filme de amor, como os grandes chamavam. Filme que tivesse muito beijo, muito abraço e que todo mundo se gostasse. Já que eu só servia para apanhar, poderia pelo menos ver os outros se gostarem. Chegou o dia que eu já podia ir para a Escola. Fui mas não para a Escola. Sabia que o Portuga passara uma semana me esperando com o “nosso” carro e naturalmente só recomeçaria a me esperar quando eu o avisasse. Ele devia estar muito preocupado com a minha ausência.
Você é meu amigo e foi por isso que eu pedi para passear no nosso carro que daqui a pouco vai ser só seu. Eu vim dizer adeus para você.
— Adeus?
— Sério. Você vê, eu não presto para nada, estou cansado de sofrer pancada e puxões de orelha. Vou deixar de ser uma boca a mais... Comecei a sentir um nó doloroso na garganta. Precisava muito de coragem para contar o resto.
— Vais fugir então?
— Não. Eu passei esta semana toda pensando nisso. Hoje de noite eu vou me atirar debaixo do Mangaratiba. Ele nem falou. Me apertou fortemente nos braços e me confortou do jeito que só ele sabia fazer. — Não. Não digas isso, por amor de Deus. Tens uma vida linda pela frente. Com essa cabeça e essa inteligência. Não digas assim que é pecado! Eu não quero nem que penses, nem que repitas isso. E eu? Tu não me queres bem? Se me queres e não estás mentindo, não deves falar mais assim. Afastou-se de mim e me olhou nos olhos. Passou as costas das mãos sobre as minhas lágrimas.
— Eu te quero muito, Pirralho. Muito mais do que tu pensas. Vamos, sorri.
Sorri meio aliviado com a confissão.
— Não, porque eu não sou rei e não mando nada. Eu sempre te pedirei as coisas.
— Mas você podia ser rei. Você tem tudo para ser rei. Todo rei é gordo como você. O rei de copas, o de espadas, o de paus e o de ouros. Todos os reis do baralho são bonitos como você, Portuga.
— E eu? Custou tanto para fazer você ficar do jeito que eu queria. Meus olhos ficaram covardemente cheios de lágrimas.
— Mas tu deves admitir que às vezes a gente também possa sonhar.
— É que você não me botou no seu sonho. Ele sorriu embevecido.
— Tudo que é sonho meu, Portuga, eu boto você. Quando saio pelas verdes campinas com Tom Mix e Fred Thompson, já aluguei uma diligência para você viajar e não se cansar muito. Você está em todo canto que eu vou. De vez em quando, na aula, eu olho pra porta e penso que você chega lá e me dá adeus..
O Mangaratiba não perdoava nada. Era o trem mais forte que havia. Vomitei mais umas duas vezes e pude ver que ninguém se incomodava comigo. Que não havia mais ninguém na vida. Não voltei para a Escola, fui seguindo o que o coração mandava.
Me fazia mal seu rasto barbado roçar no meu rosto. O cheiro que escapava da sua camisa muito usada me fazia arrepios. Fui escorregando pelos seus joelhos e caminhei para a porta da cozinha. Sentei-me nos degraus e contemplei o quintal com o morrer de todas as luzes. Meu coração se revoltara sem raiva. “Que quer esse homem que me pega no colo?” Ele não é meu pai. Meu pai morreu. O Mangaratiba matou ele.
Trecho do livro: Meu pé de Laranja Lima de José Mauro de Vasconcelos, 1968.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Futuros Amantes

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos


Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

Composição: Chico Buarque (http://www.youtube.com/watch?v=LOwQLarDhvI)
Imagem - ECLIPSE: http://web.mit.edu/kayla/Public/Backgrounds/Solar%20Eclipse.JPG

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Kadiweu


"Também conhecidos como "índios cavaleiros", integrantes da única "horda" sobrevivente dos Mbayá, um ramo dos Guaikurú, guardam a lembrança de um glorioso passado.
Organizados numa sociedade que tinha num extremo os nobres e no outro os cativos, viveram do saque e do tributo sobre seus vizinhos, dos quais faziam depender sua própria reprodução biológica, uma vez que suas mulheres não geravam filhos ou permitiam a sobrevivência de apenas um, quando já estavam no final de seu período fértil. Estas mulheres dedicavam-se à pintura corporal e facial, cuja especial disposição dos elementos geométricos Lévi-Strauss considerou como característica das sociedades hierárquicas. Desenhos que impressionam pela riqueza de suas formas e detalhes.
No passado, as hordas Mbayá se dividiam em "tolderias". A tolderia, onde havia uma casa coletiva, era a menor unidade política e econômica, que reunia a parentela de um "capitão" e os seus cativos
[...]Os finos desenhos corporais realizados pelos Kadiwéu constituem-se em uma forma notável da expressão de sua arte. Hábeis desenhistas estampam rostos com desenhos minuciosos e simétricos, traçados com a tinta obtida da mistura de suco de jenipapo com pó de carvão, aplicada com uma fina lasca de madeira ou taquara. No passado, a pintura corporal marcava a diferença entre nobres, guerreiros e cativos.
As mulheres Kadiwéu produzem, igualmente, belas peças de cerâmica: vasos de diversos tamanho e formato, pratos também de diversos tamanhos e profundidade, animais, enfeites de parede, entre outras peças criativas. Decoram-nas com padrões que lhes são distintos, que segue a um repertório rico, mas fixo, de formas preenchidas com variadas cores. A matéria-prima de seu trabalho encontram-na em barreiros especiais[...].(1)
"[...]A decoração facial Kadiwéu simboliza ao mesmo tempo a hierarquia do status no interior da sociedade e a passagem da natureza para a cultura (passagem de animal a homem). Seus padrões de desenhos no rosto seriam uma representação gráfica daquilo que suas instituições poderiam ser, caso superassem uma tendência individualista.
A função dessa decoração facial coincide com a de uma máscara: esconde a individualidade atrás de um papel social – não importa que se trate de máscaras propriamente ditas ou máscaras tatuadas/pintadas. Todas as culturas que utilizam máscaras e que possuem forte estruturação hierárquica praticam a representação desdobrada."(2)


(1):http://www.pegue.com/indio/kadiweu.htm
(2):http://corpoesociedade.blogspot.com/search/label/Kadiw%C3%A9u
Música: Raíces de América - Zamba de las tolderías (http://www.youtube.com/watch?v=9kSck3ZhDtg)

sábado, 18 de abril de 2009

Metade pássaro



A mulher do fim do mundo
Dá de comer às roseiras,
Dá de beber às estátuas,
Dá de sonhar aos poetas.

A mulher do fim do mundo
Chama a luz com assobio,
Faz a virgem virar pedra,
Cura a tempestade,
Desvia o curso dos sonhos,
Escreve cartas aos rios,
Me puxa do sono eterno
Para os seus braços que cantam.

Murilo Mendes (O visionário 1941)
Anita Malfati ( A Menina de Rosa e os Elementos da Natureza - 1930)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

De repente, 18


Lari,
O dia de hoje é especial para todas as pessoas que têm carinho por você.
Aproveite-o bem e fortaleça-se dessa energia que vêm dos que te querem bem, sejam amigos, amigas ou familiares.
Quero te parabenizar em nome do amor de mãe e filha, desse sentimento singular que nos envolve em laços tão profundos quanto eternos, que só nós sentimos, só nós acreditamos, só nós vivemos. É único na qualidade, na intensidade, no volume.
Daquele tico que era quando nasceu, hoje é uma moça.
Há muito que fala sobre assuntos diversos com tanta maturidade, responsabilidade e ética: da natureza, da escola, dos projetos todos em que se envolve, no presente ou para o futuro...
Transparente nas atitudes, me deixa segura de onde está e com quem. Para uma mãe, é muito tranquilizador, porque mãe tem disso de ficar aflita e preocupada...
Te amo.
Te abraço.
Te cheiro, porque o cheiro da filha faz bem pra mãe.
Sê feliz.


Cantiga para não morrer


Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.

Poesia: Cantiga pra não morrer - Ferreira Gullar
Imagem: Fazendo Arte

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Salve, Salve, torrão andreense...


O que a história não conta:
Vim para Santo André com a família, ou melhor, a segunda parte da família porque era costume da época, o pai vir antes e instalar-se, para, só depois, voltar pro 'interior' pra buscar os demais. No nosso caso, ele trouxe consigo as três filhas mais velhas (ou elas o trouxeram, porque a iniciativa da mudança partiu delas). Só após estarem todos empregados é que ele retornou a Itápolis para nos buscar: minha mãe, meus dois irmãos, duas irmãs e eu. Assim, em meados de 1964, partimos de Itápolis para Santo André, numa longa viagem de trem, trazendo nas mãos os nossos poucos pertences. Todos juntos, reproduzíamos, como tantas outras famílias a imagem de migrantes em busca de novas oportunidades.
A primeira casa, na rua de terra, mesmo pequena, era quase vazia, com poucos móveis e sem história. Assim permaneceu durante muito tempo, com nossas roupas amontoadas nos cantos, como nós, por sermos tantos em tão pouco espaço. De dia, durante o curto período de sol, nós, os menores íamos à escola e ao retornar, nos espalhávamos pelo quintal. À tardezinha, sob o céu cinzento pela garoa fina que vinha da serra do mar, nos recolhíamos e nos juntávamos novamente aos adultos que retornavam do trabalho.
Em dias de chuva forte, minha mãe nos contava histórias da saga da sua família, pra nos acalmar e nos manter reunidos em torno dela, mulher corajosa, mas que temia relâmpagos e trovões. Nessas histórias, sabiamente, os dramas familiares eram sempre mais graves do que aquela situação de provisoriedade que estávamos vivendo. Fazia isso, talvez, para nos confortar e manter viva em si mesma a esperança na qual ela sempre se apoiara para equilibrar os sonhos e a realidade, ao ir em busca de dias melhores.
Diferente dela, calado e retraído, com uma ligação profunda com a terra, muitas vezes vi meu pai sentado no chão do outro lado da rua, em frente de nossa casa, com ar distraído e pensamento distante. Naquele tempo eu não entendia que ele já antecipava nos olhos uma grande tristeza que ia nos acontecer num futuro não muito distante daquele tempo.
Comemoramos muito quando mudamos para outra casa, na mesma rua e maior que a primeira. Aí, sim...já tinha quartos para os filhos, para as filhas, para os pais. Aos poucos fomos preenchendo os espaços com 'coisas', algumas delas nos intrigavam, ao mesmo tempo que traziam alegria e diversão: televisão, geladeira, vitrolinha portátil, máquina fotográfica e outras, nem tanto, como a panela de pressão - que nos amedrontava pelo ruído e o movimento da válvula que girava...girava... como se tivesse vida própria.
Sem nos darmos conta, fomos incorporando esse ritmo, essa rapidez, esse gira-gira, e nos adaptando aos ruídos que aos poucos invadiam a nossa rua, a vila, transformando aquele lugar mágico em cidade. Crescemos com ela. Fizemos juntos o trajeto do milagre econômico. Sobre os vestígios do rural, construímos o urbano de forma ingênua, empurrados pelas forças ocultas da história.
Seis anos de idade eu tinha quando chegamos. Meus irmãos, irmãs e os amigos que eram filhos dos poucos moradores que havia na nossa rua, fomos, como os nossos pais e os pais deles, os desbravadores daquelas terras da Villa Valparaiso. Viver ali a minha infância e adolescência me fez desenvolver uma relação de profundo carinho com essa cidade.
As ligações afetivas com a rua em que morei, os quintais onde vivi a infância, as escolas onde estudei, construiram imagens de uma arquitetura que atravessou a minha história. Essas imagens são sustentadas por fios que compõem a trama da minha vida, cujo álbum já vai meio amarelado pelo tempo, mas que ao revisitá-lo, encontro pessoas queridas que foram determinantes na minha constituição como pessoa.
No início dos anos 80, movidos por outras paixões, mudamos de lá, mas essa é(ou poderá ser) a continuação dessa história.


Hino a Santo André

Santo André livre terra querida,
Forja ardente de amor e trabalho,
Em teu solo semeias a vida,
Em teus lares há pão e agasalho

Estribilho
Salve, salve, torrão andreense
Gigantesco viveiro industrial!
Teu formoso destino pertence
Aos que lutam por um ideal!

Três figuras de heróis bandeirantes:
Isabel, o cacique e o reinol
Constituíram os troncos gigantes
Das famílias paulistas de escol.

Estribilho

Se tu foste, no início, um castigo,
Hoje és benção dos céus sobre nós.
Santo André, o teu nome bendigo,
berço e tumba de nossos avós.

Estribilho

Eia pois, a caminho da glória,
Santo André do herói quinhentista!
Tu serás para sempre na história,
marco zero da história paulista!

Estribilho


O Hino a Santo André foi oficializado pela Lei Municipal nº 541, de 16 de fevereiro de 1950, com letra do Professor José Amaral Wagner e música de Luiz Carlos da Fonseca e Castro. Ouça:
http://www.youtube.com/watch?v=T5aqw_9_Vag
Imagem: Estrada de ferro de São Paulo Railway,1930 - Museu de Santo André.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Maringá, Maringá...


Foi numa leva que a cabocla Maringá
Ficou sendo a retirante que mais dava o que falar
E junto dela veio alguém que suplicou
Pra que nunca se esquecesse de um caboclo que ficou

Maringá, Maringá
Depois que tu partiste
Tudo aqui ficou tão triste
Que eu garrei a imaginar

Maringá, Maringá
Para haver felicidade
É preciso que a saudade
Vá bater noutro lugar

Maringá, Maringá
Volta aqui pro meu sertão
Pra de novo o coração
De um caboclo assossegar

Antigamente uma alegria sem igual
Dominava aquela gente da cidade de Pombal
Mas veio a seca, toda água foi embora
Só restando então a mágoa
Do caboclo quando chora


Linda música, composta por Joubert de Carvalho e que Paulo Santana executa na Viola Caipira. "Maringá, Maringá" deu fama à Cidade de Maringá, no Paraná, através da toponímia de 'Cidade Canção'.
Outras interpretações:
http://www.youtube.com/watch?v=EeiXdCE7_qg

sábado, 4 de abril de 2009

P&B


Você não quer?
Hiberne, então, à parte,
(No rol dos vilipêndios marquemos: mais um X).
De qualquer modo
um dia vou tomar-te sozinha
ou com a cidade de Paris.


Carta de Maiakóvski a Tatiana Iácovleva. No texto original, nao aparece aquele X, mas se Maiakóvski escrevesse em português e trabalhasse com os elementos gráficos, fônicos e semânticos de nossa língua, certamente haveria de aproveitar aquele X tão sonoro e graficamente tão bonito na página.http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/fragmentos/index
Imagem: Sem título

quarta-feira, 1 de abril de 2009

...mais que perfeito.


Ah, quem me dera
Ir-me contigo agora
A um horizonte firme, comum
Embora amar-te
Ah, quem me dera amar-te


Sem mais ciúmes
De alguém em algum lugar
Que nem presumes
Ah, quem me dera ver-te


Sempre a meu lado
Sem precisar dizer-te
Jamais, cuidado
Ah, quem me dera ter-te


Como um lugar
Plantado num chão verde
Para eu morar-te
Ah, quem me dera ter-te



Morar-te até morrer-te



Composição: Vinicius de Moraes / Jards Macalé
Imagem: Losango - Vitor Nunes (
http://www.1000imagens.com/foto.asp?idautor=54&idfoto=45&t=&g=&p=)