domingo, 24 de janeiro de 2010

Terra ViVa


Lá fora estão os Senhores da guerra
E cantam já hinos de vitória
Qual é a história desta terra?
É o medo
Ali mesmo

Cá dentro estão os homens à espera
Unidos no destino da terra
Já não há memória de paz na Terra
E o medo
Ali mesmo

Ó terra
Mais um dia a nascer

Ai, é menos um dia a perder
É tão pouca a glória duma guerra
E os homens que fazem as vitórias
Já não há memória de paz na terra
E o medo
Ali mesmo



MADREDEUS - Os Senhores Da Guerra - Composição: Francisco Ribeiro / Pedro Ayres Magalhães
Imagem: Terra viva.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Sossego...

Aqui onde se espera
- Sossego, só sossego -
Isso que outrora era,

Aqui onde, dormindo,
-Sossego, só sossego-
Se sente a noite vindo,

E nada importaria
-Sossego, só sossego-
Que fosse antes o dia,

Aqui, aqui estarei
-Sossego, só sossego -
Como no exílio um rei,

Gozando da ventura
- Sossego, só sossego -
De não ter a amargura

De reinar, mas guardando
- Sossego, só sossego -
O nome venerando...

Que mais quer quem descansa
- Sossego, só sossego -
Da dor e da esperança,

Que ter a negação
- Sossego, só sossego -
De todo o coração ?


Imagem: Sossego

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O homem possui razão e mãos.



Biologicamente, vários aspectos nos aproximam, nós, as gentes, enquanto raça humana ao passo que tantos outros, nos distanciam, enquanto seres sociais - como a língua, a religião, as condições sócio-econômicas, geográficas e outras que muitas vezes por serem visivelmente contrastantes, chocam.

Entretanto, dentre as imagens recentes divulgadas pela net por esses dias, que dão conta e ilustram notícias do terremoto em Porto Príncipe (Haiti), do deslizamento em Angra dos Reis (Brasil) ou em menores proporções, na banalidade do cotidiano, entre nevascas, incêndios, enchentes, ondas marítimas enormes ou calor intenso e tantas mais que atribuímos de forma generalizada ao 'aquecimento global' - algumas dessas contradições, quando não anulam ou se igualam na catástrofe, nos humanizam, nos assemelham ao outro e nos devolvem nossa identidade primeira: somos pessoas. Se a morte de tanta gente é outro ponto comum, agrego, então, a essas, outras e não menos graves situações de conflito, provocadas intencional e diretamente pela 'mão do homem', como na Palestina e em outras regiões onde se matam pessoas e não é raro as atitudes se pautarem em torno de ideais que se justificam legítimos e em nome da paz.

Que aprendizado podemos tirar disso?
A natureza, em sentido amplo, se encarrega de diminuir as desigualdades tão difícieis de serem enfrentadas e solucionadas pela complexa 'razão humana' e nos mostra quão frágil é a vida. Ante a surpreendente força da natureza e a fragilidade da vida humana, talvez seja onde devamos buscar o ponto de equilíbrio para tirarmos a lição que nos falta e solucionarmos os tantos conflitos causados pela razão e ou pelas mãos e chegarmos à tradução do que seria o real 'sentido da vida'.
* São Tomás de Aquino
Imagem: cães pisteiros

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Tempo


Este é o tempo da selva mais obscura
Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura
Esta é a noite densa de chacais
Pesada de amargura
Este é o tempo em que os homens renunciam.
Mar Morto - Sophia de Mello Breyner(1962)
Imagem: Eduardo Magalhães - Mar Morto http://br.olhares.com/mar_morto_foto3148834.html

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Ousadia


Era de agulhas e rendas e doces e prendas do lar
Era feita de encomendas pro seu marido exemplar
Aí ocorreu a tragédia, uma súbita paixão
Pelo vendedor de enciclopédia
Ai quantas delicadezas, que facilidade de expressão
Pasta 007, um olhar de vulcão
Nem sequer deu adeus para os seus vizinhos e familiares
Que recolhiam pedaços do circo no chão
E já se fala pelos bares, separou
E já nem liga pros altares, quem jurou
E já explode pelos ares novo amor
Mas o que foi que aconteceu com a Leonor (bis)
Tirania, ousadia, ou foi a Janete Clair
Que fez a cabeça desta mulher

Era de agulhas e rendas e doces e prendas do lar
Era feita de encomendas pro seu marido exemplar
Aí ocorreu a tragédia, uma súbita paixão
Pelo vendedor de enciclopédia.
Ai, quantas delicadezas, que facilidade de expressão
Pasta 007 e um olhar de vulcão...
Nem sequer deu adeus para os seus vizinhos e familiares
Que recolhiam pedaços do circo no chão


E já se fala pelos bares: separou!
E já nem liga pros altares, quem jurou
E já explode pelos ares novo amor...
Mas o que foi que aconteceu com a Leonor?
Tirania? Ousadia?

(ou foi a Janete Clair que fez a cabeça desta mulher)

Música: Prendas do Lar - Carlinhos Vergueiro, 1977.
Imagem: Releitura de foto (Ilha da Madeira) - Do original de autoria de Hermínio Abreu