sábado, 26 de junho de 2010

Elogio à lucidez


"[...]Da literatura à ecologia, da fuga das galáxias ao efeito de estufa, do tratamento do lixo às congestões do tráfego, tudo se discute neste nosso mundo. Mas o sistema democrático, como se de um dado definitivamente adquirido se tratasse, intocável por natureza até à consumação dos séculos, esse não se discute. Ora, se não estou em erro, se não sou incapaz de somar dois e dois, então, entre tantas outras discussões necessárias ou indispensáveis, é urgente, antes que se nos torne demasiado tarde, promover um debate mundial sobre a democracia e as causas da sua decadência, sobre a intervenção dos cidadãos na vida política e social, sobre as relações entre os Estados e o poder económico e financeiro mundial, sobre aquilo que afirma e aquilo que nega a democracia, sobre o direito à felicidade e a uma existência digna, sobre as misérias e as esperanças da humanidade, ou, falando com menos retórica, dos simples seres humanos que a compõem, um por um e todos juntos.

Não há pior engano do que o daquele que a si mesmo se engana. E assim é que estamos vivendo.
Não tenho mais que dizer. Ou sim, apenas uma palavra para pedir um instante de silêncio. O camponês de Florença acaba de subir uma vez mais à torre da igreja, o sino vai tocar. Ouçamo-lo, por favor. "
JOSÉ SARAMAGO


Texto na íntegra:
Imagem: O Sino - G. Ramalheira - http://br.olhares.com/o_sino_foto436919.html

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Quero me casar...


Quero me casar
na noite na rua
no mar ou no céu
quero me casar.

Procuro uma noiva
loura morena
preta ou azul
uma noiva verde
uma noiva no ar
como um passarinho

Depressa, que o amor
não pode esperar!

Carlos Drummond de Andrade

domingo, 20 de junho de 2010

Quem não tem seus pequenos tesouros?

Alguns deles nos acompanham por algum tempo, ou durante uma fase e ainda há os que carregamos conosco pela vida toda.
De diferentes origens, podem ser feitos em diversos materiais para atender a múltiplas finalidades: em papel - foto de infância, bilhete de viagem, papel de bombom, seda da maçã, guardanapo, catálogo de hotel, folder de cidade, programa de ballet, autógrafos de celebridades; fragmentos da natureza: areia, pedra, pétala de flor, folhas ou em pequenos objetos, como xícaras, cinzeiros, talheres de hotel, denunciando e confirmando que lá estivemos e registramos, de alguma forma, a nossa passagem por aquele momento histórico. Pode ser de um encontro a dois ou de um grande encontro compartilhado com outras tantas pessoas. A proporção do evento não é o que define a importância do objeto guardado e indiscutivelmente, todos, simbolizam algo, desde os que representam a alegria e a memória da presença até aqueles que podem demarcar a perda de alguém querido e portanto, a morte. Podem variar os objetos e também os objetivos, contudo, têm em comum a perspectiva de eternizar a memória.
Que destino terão quando já não estivermos aqui a zelar por eles, não vem ao caso.
Amuletos ou não, carregamos conosco esses pequenos tesouros e eles fazem parte da nossa necessidade de organizar o passado e conservar a história, para que presente e futuro não sejam demasiado pesados.
Contrariando a ética da privacidade dos 'guardados', revelo que tenho um amigo que guarda um azulejo comemorativo da sua 'equipa' de futebol; outro, que traz sempre consigo um cachecol do seu país de origem, para dar sorte quando joga a 'sueca'. Eu, tenho nos guardados o boletim do ensino primário, talvez o mais antigo de uma porção de objetos cujo valor não permite que sejam jogados fora, ao menos até hoje.
Este que apresento aqui através da imagem, é o mais ilustre da minha coleção de 'pequenos tesouros'.

Agradecimento especial ao Serginho e à Pilar pelos esforços dirigidos pra que chegasse até mim esse pequeno tesouro.
Imagem: Autógrafo de José Saramago no livro "A VIAGEM DO ELEFANTE" 20/11/2008.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Os Ombros Suportam O Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo, prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.


Carlos Drummond de Andrade Imagem: Casa de Farinha - Djanira

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Futebol

Oi, oi, oi...
olha aquela bola
A bola pula bem no pé
no pé do menino
Quem é esse menino
Esse menino é meu vizinho

Onde ele mora
Mora lá naquela casa
Onde está a casa
A casa tá na rua
Onde está a rua
Tá dentro da cidade
Onde está a cidade
Do lado da floresta
Onde é a floresta
A floresta é no Brasil

Onde está o Brasil
'tá na América do Sul
continente americano
cercado de oceano
das terras mais distantes de todo
o planeta
E como é o planeta?
O planeta é uma bola que rebola lá no céu...
Oi, oi, oi...


Música: Palavra Cantada
Imagem: Futebol - Cândido Portinari, pintor brasileiro.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Sobre a Copa "Padre Silva"


A escola 'Padre Silva' cresceu. Com ela, o volume de problemas. Por outro lado e ainda bem, em proporções superiores têm sido as manifestações de arte, alegria, pelo compromisso dos adultos com cada uma das crianças.
Já não se pode pensar pequenininho, nessa escola que nos convoca a uma visão alargada e grandiosa. Assim foi o evento de ontem.
Parabéns à Silvia pela coordenação da COPA PADRE SILVA, com os 4ºs e 5ºs anos.
Parabéns às professoras que responderam de forma aberta com as suas turmas e deram uma lição de trabalho colaborativo e coletivo nesse evento.

Fica uma frase, pra quem duvidar que essa é uma atitude arrojada e corajosa:

"Não sabendo que era impossível, foi lá e fez." (Jean Cocteau)

Grande abraço.

Marlene

sábado, 12 de junho de 2010

Nós fomos e...







09 de Junho (4ª Feira)
19:00: Viagem ao Mundo do Fado
Breve palestra e filme
Acompanhados de delicioso caldo verde!
Local: Casa de Portugal de Campinas

...Mesmo sendo quase 'estrangeiras', fomos muito bem acolhidas pelo Sr. Queiroz, sua filha Sandra, Isabel e outras pessoas tão gentis. Esse espaço é formado por uma grande família. Estava excelente a comida (caldo verde, muito azeite, broinha e pastéis de nata!!), a música e a companhia. É uma casa portuguesa, com certeza!

http://www.casadeportugalcamp.com.br/

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Juntos...mas estranhos.


Enquanto meu amigo, entre amigos, comemora as bodas de prata e o reencontro de outros amigos, no que chamam jocosamente de um 'congresso de ex' eu aqui vou contar sobre dois casamentos duradouros e com perspectivas que eu diria até, deprimentes.

Desde 1987 moro no mesmo bairro, portanto, há quase 25 anos. Muito pouco se mudou em termos de moradores então, conhecemos as famílias, suas trajetórias, seus filhos e alguns netos até.

Nesta 'minha rua' há casais cujos casamentos duram décadas e outros que já superaram a marca das bodas de ouro.

Entretanto, há dois casos especiais que são exemplos desse segundo caso, e que, recentemente, têm tido um desenlace profundamente entristecedor.

Um deles é de Dona Irma e Seu João. Seu João é professor aposentado e desde que lecionava, a Dona Irma, dona de casa, o levava até o portão e ficava esperando ele chegar à esquina, quando ele se virava, acenava um tchau com a mão e ela correspondia. Só depois desse gesto de carinho ele sumia de vista, rumo ao ponto do ônibus. Durante muitos anos essa cena foi observada por nós moradores daqui.

Atualmente, ele tem 90 anos e ela, 86. Ainda fazem caminhadas pela rua: ele um negro de porte alto, esguio e ela um pouco mais baixa e nao menos elegante. Andam lado a lado, em silêncio, tomando o sol da manhã.

Foi num encontro na quitanda, entre uma conversa e outra que ela nos disse que 'ele não anda bem', o Seu João. Já não a reconhece. Mantém ainda a gentileza e se dirige a ela como a uma estranha cuidadora, pedindo licença, por favor e muito obrigado, mas não a reconhece como a companheira com quem viveu a vida a dois. Ela diz isso e apesar da força que demonstra ter, o faz com carinho e a compaixão de quem foi cúmplice e compartilhou com ele bons anos da sua vida.

A outra história eu conto outro dia...

Esse é o momento da Dona Irma e do Seu João, que em breve vão se mudar para um abrigo de idosos na cidade vizinha, onde ela terá pessoas para auxiliá-la a cuidar dele e cuidarão também dela.

Serão pessoas estranhas, por certo, como está sendo ela para ele, nesse momento.


Imagem: Crepúsculo, de Luís Antunes.

domingo, 6 de junho de 2010

Meio ambiente, tudo isso...


Beira do mar, lugar comum
Começo do caminhar
Pra beira de outro lugar

Beira do mar, todo mar é um
Começo do caminhar
Pra dentro do fundo azul

A água bateu, o vento soprou
O fogo do sol, O sal do senhor

Tudo isso vem, tudo isso vai
Pro mesmo lugar
De onde tudo sai
Lugar Comum - João Donato / Gilberto Gil