quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Carta de intenções

Poderia falar de muitos, mas elegi três aspectos que imprimem a marca de como foi o meu ano. Ainda que não haja ruptura, já é um breve passado. Lanço então um olhar de 'janus' que demarque o transitório e provisório ao que foi e ao que pretendo que seja.
O retorno à faculdade - como aluna e pesquisadora me fez sentir o prazer de estar na condição de estudante;
Os meus filhos - cuidando do presente e de suas perspectivas de futuro, apoiando as escolhas e os valores que sustentam seus projetos de vida;
O meu trabalho - as novas oportunidades que surgiram e possibilitaram crescimento profissional e uma renda complementar.

Para 2010, então, pensei em uma palavra que resumisse o que fica e o que eu quero levar, de forma renovada.

Essa palavra-conceito escolhida é energia - porque complementa-se bem com adjetivos como renovável, sustentável e limpa, coerentes com o que planejo.

São nesses aspectos onde vou concentrar as trocas de energias que estarão a mover o meu universo particular, intelectual, emocional e profissional, reassumindo alguns compromissos:
A continuidade na formação e disciplina para corresponder à minha condição atual de estudante e pesquisadora;
O apoio aos meus filhos, fortalecendo os seus projetos porque eles são sempre prioridade nas minhas escolhas;
E o meu trabalho, focado em três frentes: ampliar o campo de formação, a continuidade na pesquisa e o meu projeto de trabalho na escola, onde tenho muito a realizar, além do que, é de onde extraio as condições necessárias para que tantas outras coisas aconteçam.
Evidente que não é tão delineado assim. Entretanto, esse é o momento propício à reflexão e s
into-me convocada a ponderar. Assim, deixo aqui a minha carta de intenções para o ano que, daqui a pouco, simbolicamente se inicia
.
Imagem: Releitura de imagem - página 3 - revista Energia sem limites - EDP do Brasil, 2008.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal para sempre...


Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal.

É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: 10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito. E não parece absurdo imaginar que, pelo desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem, o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era civil, com suas obrigações enfadonhas ou malignas. Será bom.

Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã e de noite, de uma rua a outra, de continente a continente, de cortina de ferro à cortina de náilon – sem cortinas.

Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos, marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade.

Os objetos se impregnarão de espírito natalino...

O mundo será administrado exclusivamente pela crianças, e elas farão o que bem entenderem das restantes instituições caducas, a Universidade inclusive.

E será Natal para sempre.


sábado, 19 de dezembro de 2009

CONSELHO PARA ESCRITORES

Mesmo que te mantenha a pé toda a noite, lava as paredes e esfrega o chão do teu estúdio antes de compores uma sílaba.
Limpa como se o Papa estivesse para vir.
O asseio imaculado é sobrinho da inspiração.

Quanto mais limpares, mais brilhante
será a tua escrita; não hesites, pois em sair

a campo aberto e lavar a face oculta
das pedras, nem de passar um trapo nos ramos mais altos
das florestas sombrias, pelos ninhos cheios de ovos.

Quando encontrares o caminho de volta para casa
e guardares as esponjas e escovas debaixo do lava-loiça,
contemplarás a luz da aurora,
o altar imaculado da tua secretária

uma superfície limpa no centro de um mundo limpo.
Então, de um pequeno copo, azul reluzente, tira

um lápis amarelo, o mais afiado do bouquet,
e cobre páginas com frases miúdas
como longas filas de formigas devotas,
que te seguiram desde o bosque
.



Poesia - Billy Collins Tradução de José Luís Peixoto: http://bravonline.abril.com.br/blog/joseluispeixoto/
Imagens - Formigas de Ricardo bx Souza:
http://br.olhares.com/formigas_foto1982484.html

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

...se nos rompió el amor


Se nos rompió el amor de tanto usarlo.
De tanto loco abrazo sin medidas.
De darnos por completo a cada paso,
se nos quedó en las manos un buen día.

Me alimenté de tí por mucho tiempo,
nos devoramos vivos como fieras.

Jamás pensamos nunca en el invierno,
pero el invierno llega, aunque no quieras.

Y una mañana gris al abrazarnos,
sentimos un crujido frío y seco,
cerramos nuestros ojos y pensamos:
Se nos rompió el amor
Se nos rompió el amor
de tan grandioso.

Jamás pudo existir tanta belleza.
Las cosas más hermosas duran poco
jamás duró una flor dos primaveras.

Me alimenté de tí por mucho tiempo,
nos devoramos vivos como fieras.

Jamás pensamos nunca en el invierno,
pero el invierno llega, aunque no quieras.
Y una mañana gris al abrazarnos,
sentimos un crujido frío y seco,
cerramos nuestros ojos y pensamos:

Se nos rompió el amor de tanto usarlo...
de tanto usarlo... de tanto usarlo...


Se nos rompió el amor - Rocío Jurado (Tema do filme de Pedro Almodóvar: KIKA)
Imagem: Verónica Forqué - Belíssima e expressivamente cativante.

sábado, 12 de dezembro de 2009

VENTO, ÁGUA, PEDRA


A água perfura a pedra,
o vento dispersa a água,
a pedra detém ao vento.
Água, vento, pedra.


O vento esculpe a pedra,
a pedra é taça da água,
a água escapa e é vento.
Pedra, vento, água.

O vento em seus giros canta,
a água ao andar murmura,
a pedra imóvel se cala.
Vento, água, pedra.

Um é outro e é nenhum:
entre seus nomes vazios
passam e se desvanecem.
Água, pedra, vento.




Poesia: Vento, Água, Pedra de Octávio Paz, poeta mexicano.
Imagem: o que me arde é chuva:
http://br.olhares.com/o_que_me_arde_e_chuva_foto1970187.html

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Que destino damos aos nossos destinos








"Há experiências que nos deixam a braços com o lado desconhecido, secreto e autêntico da vida. O Fado é uma delas. Só o compreende quem, mais do que o ouvir, já o escutou ou cantou, num dos poucos templos do seu culto autêntico.[...]
O que torna possível a conversão do destino em destinação, ou a Libertação plena de todas as inevitáveis limitações existenciais, nada compatível com a anestesia, o suicídio lento e o langor do deleite num sofrimento não emancipador. Assim, aos versos do conhecido "Fado é Sorte", de Jaime Mendes - "Bem pensado/ Todos temos nosso fado/ E quem nasce mal fadado/ Melhor fado não terá // Fado é sorte/ E do berço até à morte/ Ninguém foge por mais forte/ Ao destino que Deus dá" -, bem responderia Bocage : "Não forçam corações as divindades: / Fado amigo não há, nem fado escuro;/ Fados são as paixões, são as vontades"."

Excerto de "O fado", de Paulo A. E. Borges (Universidade de Lisboa, disponível em: http://www.pauloborges.net/textos/O%20Fado.pdf Imagens: António Zambujo in Lisboa - http://www.antoniozambujo.com/home.asp?zona=5&template=4&precedencia=0&idioma=1

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Nevoeiro (fragmento)


[...]Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
[...]
É a hora!


Mensagem: Fernando Pessoa

Lua Adversa


Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha


Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.


E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

Poesia de Cecília Meireles
Imagem: Luar disponível em: http://br.olhares.com/luar_foto704109.html