O automóvel corre, a lembrança morre
O suor escorre e molha a calçada
A verdade na rua, a verdade no povo
A mulher toda nua mas nada de novo
A revolta latente que ninguém vê
E nem sabe se sente,
Pois é, pra quê?
O imposto, a conta, o bazar barato
O relógio aponta o momento exato
Da morte incerta, a gravata enforca
O sapato aperta, o país exporta
E na minha porta, ninguém quer ver
Uma sombra morta
Pois é, pra quê?
Que rapaz é esse, que estranho canto
Seu rosto é santo, seu canto é tudo
Saiu do nada, da dor fingida
Desceu a estrada, subiu na vida
A menina aflita, ele não quer ver
A guitarra excita
Pois é, pra quê?
A fome, a doença, o esporte, a gincana
A praia compensa, o trabalho, a semana
O chopp, o cinema, o amor que atenua
Um tiro no peito, o sangue na rua
A fome, a doença, não sei mais porque
Que noite, que lua, meu bem pra quê?
O patrão sustenta o café, o almoço
O jornal comenta, o rapaz tão moço
O calor aumenta, a família cresce
O cientista inventa uma flor 'que parece'
A razão mais segura pra ninguém saber
De outra flor que tortura...
No fim do mundo tem um tesouro
Quem for primeiro, carrega o ouro
A vida passa no meu cigarro
Quem tem mais pressa que arranje um carro
Pra andar ligeiro sem ter porque
Sem ter pra onde...
Pois é, pra quê?
(MPB4 - Sidney Müller)
(foto - Charles C. Ebbets )
Parabens pela escolha da foto , uma foto vale mais que mil palavras e essa esta no local certo junto a esse post .
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