O melhor do namoro, claro, é o ridículo. Mas o Alcyr se passara. Chegara a um extremo de ridículo. Chegara a uma apoteose do ridículo. Ou como você chamaria ter que imitar um cachorro para não descobrirem que era ele no quintal, louco de ciúmes, embaixo da janela da namorada, numa fria noite de agosto? O Alcyr exagerara. Alcyr, que Suzana chamava de Ipsilone, porque aquela fora a primeira coisa que ele lhe dissera.
- Ipsilone.
- Hein?
- Alcyr. É com Ipsilone.
- Ah.
Ela estava preenchendo um formulário para dar entrada no seu pedido, algo a ver com um crediário, não interessa, e precisava de todos os seus dados.
- Estado civil?
- Solteiríssimo.
Daí para a pergunta "Que horas tu larga?" e o convite para tomarem um chope foi um pulo, e do chope para o namoro firme foi outro. Suzana ouvia cantadas e convites o dia inteiro, não era dessas, mas simpatizara com o Alcyr. O Alcyr parecia não ser como os outros. E o ipsilone, sei lá. O ipsilone no nome dele lhe dava uma certa segurança.
- Desliga você.
- Não, desliga você.
- Você.
- Você.
- Então vamos desligar juntos.
- Ta. Conta até três.
- Um... Dois... Dois e meio...
Ridículo porque não era você. Ou era você, e só agora, visto desta distância, ficou ridículo. Porque na hora não era não. Na hora nem os apelidos secretos que vocês tinham um para o outro, lembra?, eram ridículos. Pisilone. Suzuca. Alcyzanzão. Surussuzuca. Gongonha (Gongonha?). Mamosa. Purupupuca...
Não havia coisa melhor do que passar tardes inteiras num sofá, olho no olho, dizendo:
- As dondozeira ama os dondozeiro?
- Ama.
- Mas os dondozeiro ama as dondozeira mais do que as dondozeira ama os dondozeiro.
- Na-na-não. As dondozeira ama os dondozeiro mais do que etc.
E, entremeando o diálogo, longos beijos, profundos beijos, beijos mais do que de língua, beijos de amígdalas, beijos catetéricos.
Tardes inteiras. Confesse: ridículo só porque nunca mais. Depois do ridículo, o melhor do namoro são as brigas. Aconteceu com o Ipsilone e a Suzana. Brigaram e brigaram feio. Várias vezes.
Aí ela ligava para ele e não dizia nada, e ele:
- Eu sei que é você. Está me controlando, é? O que é, se arrependeu?
Ou ele ligava para ela e, assim que ela atendia, desligava.
Quem diz que nunca, como quem não quer nada, arquitetou um encontro casual com a ex ou o ex só pra ver se ela ou ele está com alguém, ou pra fingir que não vê, ou pra ver e ignorar, ou para dar um abano amistoso querendo dizer que ela ou ele agora significa tão pouco que podem até ser amigos, está mentindo.
- Ipsilone.
- Hein?
- Alcyr. É com Ipsilone.
- Ah.
Ela estava preenchendo um formulário para dar entrada no seu pedido, algo a ver com um crediário, não interessa, e precisava de todos os seus dados.
- Estado civil?
- Solteiríssimo.
Daí para a pergunta "Que horas tu larga?" e o convite para tomarem um chope foi um pulo, e do chope para o namoro firme foi outro. Suzana ouvia cantadas e convites o dia inteiro, não era dessas, mas simpatizara com o Alcyr. O Alcyr parecia não ser como os outros. E o ipsilone, sei lá. O ipsilone no nome dele lhe dava uma certa segurança.
- Desliga você.
- Não, desliga você.
- Você.
- Você.
- Então vamos desligar juntos.
- Ta. Conta até três.
- Um... Dois... Dois e meio...
Ridículo porque não era você. Ou era você, e só agora, visto desta distância, ficou ridículo. Porque na hora não era não. Na hora nem os apelidos secretos que vocês tinham um para o outro, lembra?, eram ridículos. Pisilone. Suzuca. Alcyzanzão. Surussuzuca. Gongonha (Gongonha?). Mamosa. Purupupuca...
Não havia coisa melhor do que passar tardes inteiras num sofá, olho no olho, dizendo:
- As dondozeira ama os dondozeiro?
- Ama.
- Mas os dondozeiro ama as dondozeira mais do que as dondozeira ama os dondozeiro.
- Na-na-não. As dondozeira ama os dondozeiro mais do que etc.
E, entremeando o diálogo, longos beijos, profundos beijos, beijos mais do que de língua, beijos de amígdalas, beijos catetéricos.
Tardes inteiras. Confesse: ridículo só porque nunca mais. Depois do ridículo, o melhor do namoro são as brigas. Aconteceu com o Ipsilone e a Suzana. Brigaram e brigaram feio. Várias vezes.
Aí ela ligava para ele e não dizia nada, e ele:
- Eu sei que é você. Está me controlando, é? O que é, se arrependeu?
Ou ele ligava para ela e, assim que ela atendia, desligava.
Quem diz que nunca, como quem não quer nada, arquitetou um encontro casual com a ex ou o ex só pra ver se ela ou ele está com alguém, ou pra fingir que não vê, ou pra ver e ignorar, ou para dar um abano amistoso querendo dizer que ela ou ele agora significa tão pouco que podem até ser amigos, está mentindo.
Está mentindo.
Imagem: http://br.olhares.com/sera_que_e_namoro_foto401808.html
VERÍSSIMO, Luís Fernando. Correio Braziliense. 13/06/1999.
VERÍSSIMO, Luís Fernando. Correio Braziliense. 13/06/1999.
Nunca fui bom a ler nas " entrelinhas " pois so leio um lado das palavras , mas leio duma forma tão crente que acredito nelas como se nãofosse possivel existir o outro lado.
ResponderExcluirPara mim, amigos que se amam , são sempre namorados, ou não fosse o namoro um pedaço de mel na propria amizade.