domingo, 18 de janeiro de 2009

O malabares e a aprendizagem...



Ao longo da vida, a minha experiência com as artes circences se restringiu a equilibrar vassouras pelo cabo, andar em pernas de pau e girar o caderno universitário nos dedos, respectivamente, na infância e adolescência. Pegar duas bolinhas e, enquanto arremessava uma para o alto, trocar de mão a segunda, rapidamente, até que a outra voltasse era o mais brilhante que eu conseguia fazer de malabarismos. Sair desse estágio foi o meu desafio. Descolar-me desse 'vício' adquirido e me colocar no lugar de aprendiz, mobilizar meu exército contra o desconforto e em favor dessa empreitada foi o que pretendi ao fazer a oficina de malabares.
Com muito boa vontade, o instrutor foi-me dando passos, um a um, reconhecendo o que eu já sabia fazer (!) e inserindo outras fases que fui dominando e considerei pequenos avanços com duas bolinhas: já lançava uma e a segunda, não mais trocava de mão, mas a lançava assim que a primeira começava a descrever sua trajetória de retorno. O resultado foi que, ao final, eu conseguia deslocar as duas bolinhas, em movimentos coordenados, num sincronismo que me surpreendeu.
Inserir uma terceira bolinha me parecia uma tarefa para quando eu já estivesse 'bam-bam-bam' dessa fase. No entanto, sem mesmo estar segura, o moço propôs a inclusão da terceira bolinha... Medo!! No entanto, estava ali pra isso, literalmente, na chuva, que começava a cair, nesse sábado quente de verão.
Segurar duas bolinhas em uma das mãos e uma bolinha na outra. Lançar sempre a bolinha da mão que detém as duas...lançar a bolinha da outra mão, e quando a primeira começa a trajetória de volta, lançar a segunda. A conclusão é que as bolinhas vão desenhando uma parábola no ar, como se tivessem vida própria ou fossem apenas uma extensão da minha energia dirigida, conduzindo-as àquela geometria espacial. À parte, é uma delícia ver a habilidade do instrutor. Inversamente proporcional, fracassos, um atrás do outro se revelavam nas minhas tentativas...até que...dado momento, percebo que posso, com a mão que tem apenas uma bolinha, ao receber a segunda, lançar a primeira suavemente, como se empurrasse alguém num tobogã, sem resistências... e avanço mais um passo: lanço a bolinha com a mão que tem as duas, no retorno dessa, lanço a da segunda mão, não seguro a primeira bolinha lançada...mal chega, toco nela com leveza...e assim ela se lança, suavemente em direção à outra mão... que nem sempre a acolhe, mas esse será o próximo passo.
Depois de um certo tempo, alguém que sequer sabia trocar duas bolinhas de mão, atribuindo a ambas uma altura parecida, ao final, saí conseguindo realizar ao menos quatro troca de mãos...não é fantástico? Entretanto, o mais curioso foi quando, em dada altura, quando cheguei ao 'meu melhor' 'do meu avanço diário, deu-me praticamente um 'branco...e já não dominava mais as três bolinhas, caindo-me como se fossem liquefeitas... e tive que recomeçar, não do que eu sabia, que era trocar de mão as duas, mas jogar uma unidade por vez...para iniciar os passos todos, novamente.

... hay que tener paciencia y persistencia.
Imagem:Palhaço em Malabares - Marco Bastos.


Um comentário:

  1. Excelente descrição dos malabares e da sua dificuldade assim como da paixão colocada no próprio exercício .
    Ao ler fiz uma comparação metafórica com a vida , em que no inicio apenas temos algumas peças para gerir e com o correr dos anos vamos tendo mais e mais bolinhas para saber gerir e que tantas vezes nos queimam nas mãos e por isso as vamos lançando ao ar esperando que caiam bem mais frescas .
    Alguns desses malabares sobem e demoram a descer outros são mais rápidos na sua curva descendente e outras acabam por cair no chão, deixando o nosso olhar frustrado de nada podermos fazer.

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