Já vai pra cozinha e coando o café
Ela grita: João, levanta que é hora
Ela grita: João, levanta que é hora
"...e, de uma hora para a outra, houve uma terrível baixa no preço do café. [...] fecharam-se as exportações. Centenas e centenas de sacas de café foram incineradas e no ar de todo o Brasil respirava-se uma fumaça escura, ardida, a fumaça dos sonhos de todos os cafeicultores."
Contava a minha mãe, grande contadora de histórias, que seu pai, o meu avô Bepo, enlouquecera, em consequência desse episódio que é um marco na história econômica. Com a quebra da bolsa de valores, a baixa nos preços levou os cafeicultores à incineração da produção, porque já não havia mercado para o produto. Nem consigo fazer ideia do que se passou com aquela gente toda, mas segundo a minha mãe, o meu nono perdeu o juízo e já não falava 'coisa com coisa' depois daquilo. A economia se restabeleceu, mas a família ficou marcada pela perda de um ente querido e o fim de muitos sonhos de uma vida melhor.
Contudo, há um casamento de amor e desamor, de sucessos e de fracassos, entre os brasileiros e o café, que se evidencia na composição da nossa rede histórico-sócio-cultural, desde a colonização até os dias de hoje, como um dos nossos principais produtos.
Minha mãe não chegou a conhecer a lenda árabe das cabras que comiam as frutinhas vermelhas e saiam dando saltos, figura essa que pode ilustrar tão bem a rota do café pelo mundo; o episódio grave que acarretou na morte do meu nono também não foi empecilho pra que ela desenvolvesse uma especial preferência pelo café. O hábito pelo 'cafezinho', carinhosa e merecidamente como é chamado, foi desenvolvido em nossa família e é comum, até hoje, no decorrer do dia, o aroma de um café fresco nascer na cozinha e se espalhar pela casa...
Fazendo uma analogia à 'uma casa portuguesa, com certeza' onde ficam bem o pão e o vinho sobre a mesa, eu diria, que o aroma do café associado ao odor das nossas casas, é a combinação perfeita e é o que melhor nos representa, como a referência de memória de "uma casa brasileira, com certeza".
Vai um cafezinho aí? LP
Trecho do Poema-monólogo "O dia de uma mulher " (José Fortuna). Disponível em http://www.josefortuna.com.br/
Excerto do livro "O Sonho acabou?". ANJOS. Clementina Malagolini dos, página 15. 2ª edição. Editora do Brasil S/A.
Imagem:
A história do Café: http://www.abic.com.br/scafe_historia.html
Referência à música (fado): Uma casa portuguesa, da autoria de V.M. Sequeira e Artur Fonseca e voz de Amália Rodrigues.
O café é sem duvida umas das minhas bebidas preferidas, pois tem uma característica muito própria. Ao contrario de outras bebidas podemos usufruir do prazer do mesmo sozinhos ou acompanhados que se torna um momento de prazer e guardo na memoria alguns tomados em excelente companhia em locais simples onde o café tinha melhor sabor pois era partilhado entre dois dedos de conversa de mão dada.
ResponderExcluirTive o grato prazer de ler todo o livro onde consta essa magnifica narrativa, ao ler agora fora do contexto do próprio livro, senti um cheirinho a café quente acabado de fazer.
Por aqui..... Fico á espera de um LP
kele, uma amiga de grande data... saudades
ResponderExcluirocimar@rogers.com