quarta-feira, 21 de maio de 2008

Pois é, Pra Quê?


O automóvel corre, a lembrança morre

O suor escorre e molha a calçada

A verdade na rua, a verdade no povo

A mulher toda nua mas nada de novo

A revolta latente que ninguém vê

E nem sabe se sente,

Pois é, pra quê?

O imposto, a conta, o bazar barato

O relógio aponta o momento exato

Da morte incerta, a gravata enforca

O sapato aperta, o país exporta

E na minha porta, ninguém quer ver

Uma sombra morta

Pois é, pra quê?

Que rapaz é esse, que estranho canto

Seu rosto é santo, seu canto é tudo

Saiu do nada, da dor fingida

Desceu a estrada, subiu na vida

A menina aflita, ele não quer ver

A guitarra excita

Pois é, pra quê?

A fome, a doença, o esporte, a gincana

A praia compensa, o trabalho, a semana

O chopp, o cinema, o amor que atenua

Um tiro no peito, o sangue na rua

A fome, a doença, não sei mais porque

Que noite, que lua, meu bem pra quê?

O patrão sustenta o café, o almoço

O jornal comenta, o rapaz tão moço

O calor aumenta, a família cresce

O cientista inventa uma flor 'que parece'

A razão mais segura pra ninguém saber

De outra flor que tortura...

No fim do mundo tem um tesouro

Quem for primeiro, carrega o ouro

A vida passa no meu cigarro

Quem tem mais pressa que arranje um carro

Pra andar ligeiro sem ter porque

Sem ter pra onde...

Pois é, pra quê?


(MPB4 - Sidney Müller)
(foto - Charles C. Ebbets )

Um comentário:

  1. Parabens pela escolha da foto , uma foto vale mais que mil palavras e essa esta no local certo junto a esse post .

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