quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Carta de intenções

Poderia falar de muitos, mas elegi três aspectos que imprimem a marca de como foi o meu ano. Ainda que não haja ruptura, já é um breve passado. Lanço então um olhar de 'janus' que demarque o transitório e provisório ao que foi e ao que pretendo que seja.
O retorno à faculdade - como aluna e pesquisadora me fez sentir o prazer de estar na condição de estudante;
Os meus filhos - cuidando do presente e de suas perspectivas de futuro, apoiando as escolhas e os valores que sustentam seus projetos de vida;
O meu trabalho - as novas oportunidades que surgiram e possibilitaram crescimento profissional e uma renda complementar.

Para 2010, então, pensei em uma palavra que resumisse o que fica e o que eu quero levar, de forma renovada.

Essa palavra-conceito escolhida é energia - porque complementa-se bem com adjetivos como renovável, sustentável e limpa, coerentes com o que planejo.

São nesses aspectos onde vou concentrar as trocas de energias que estarão a mover o meu universo particular, intelectual, emocional e profissional, reassumindo alguns compromissos:
A continuidade na formação e disciplina para corresponder à minha condição atual de estudante e pesquisadora;
O apoio aos meus filhos, fortalecendo os seus projetos porque eles são sempre prioridade nas minhas escolhas;
E o meu trabalho, focado em três frentes: ampliar o campo de formação, a continuidade na pesquisa e o meu projeto de trabalho na escola, onde tenho muito a realizar, além do que, é de onde extraio as condições necessárias para que tantas outras coisas aconteçam.
Evidente que não é tão delineado assim. Entretanto, esse é o momento propício à reflexão e s
into-me convocada a ponderar. Assim, deixo aqui a minha carta de intenções para o ano que, daqui a pouco, simbolicamente se inicia
.
Imagem: Releitura de imagem - página 3 - revista Energia sem limites - EDP do Brasil, 2008.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal para sempre...


Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal.

É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: 10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito. E não parece absurdo imaginar que, pelo desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem, o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era civil, com suas obrigações enfadonhas ou malignas. Será bom.

Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã e de noite, de uma rua a outra, de continente a continente, de cortina de ferro à cortina de náilon – sem cortinas.

Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos, marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade.

Os objetos se impregnarão de espírito natalino...

O mundo será administrado exclusivamente pela crianças, e elas farão o que bem entenderem das restantes instituições caducas, a Universidade inclusive.

E será Natal para sempre.


sábado, 19 de dezembro de 2009

CONSELHO PARA ESCRITORES

Mesmo que te mantenha a pé toda a noite, lava as paredes e esfrega o chão do teu estúdio antes de compores uma sílaba.
Limpa como se o Papa estivesse para vir.
O asseio imaculado é sobrinho da inspiração.

Quanto mais limpares, mais brilhante
será a tua escrita; não hesites, pois em sair

a campo aberto e lavar a face oculta
das pedras, nem de passar um trapo nos ramos mais altos
das florestas sombrias, pelos ninhos cheios de ovos.

Quando encontrares o caminho de volta para casa
e guardares as esponjas e escovas debaixo do lava-loiça,
contemplarás a luz da aurora,
o altar imaculado da tua secretária

uma superfície limpa no centro de um mundo limpo.
Então, de um pequeno copo, azul reluzente, tira

um lápis amarelo, o mais afiado do bouquet,
e cobre páginas com frases miúdas
como longas filas de formigas devotas,
que te seguiram desde o bosque
.



Poesia - Billy Collins Tradução de José Luís Peixoto: http://bravonline.abril.com.br/blog/joseluispeixoto/
Imagens - Formigas de Ricardo bx Souza:
http://br.olhares.com/formigas_foto1982484.html

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

...se nos rompió el amor


Se nos rompió el amor de tanto usarlo.
De tanto loco abrazo sin medidas.
De darnos por completo a cada paso,
se nos quedó en las manos un buen día.

Me alimenté de tí por mucho tiempo,
nos devoramos vivos como fieras.

Jamás pensamos nunca en el invierno,
pero el invierno llega, aunque no quieras.

Y una mañana gris al abrazarnos,
sentimos un crujido frío y seco,
cerramos nuestros ojos y pensamos:
Se nos rompió el amor
Se nos rompió el amor
de tan grandioso.

Jamás pudo existir tanta belleza.
Las cosas más hermosas duran poco
jamás duró una flor dos primaveras.

Me alimenté de tí por mucho tiempo,
nos devoramos vivos como fieras.

Jamás pensamos nunca en el invierno,
pero el invierno llega, aunque no quieras.
Y una mañana gris al abrazarnos,
sentimos un crujido frío y seco,
cerramos nuestros ojos y pensamos:

Se nos rompió el amor de tanto usarlo...
de tanto usarlo... de tanto usarlo...


Se nos rompió el amor - Rocío Jurado (Tema do filme de Pedro Almodóvar: KIKA)
Imagem: Verónica Forqué - Belíssima e expressivamente cativante.

sábado, 12 de dezembro de 2009

VENTO, ÁGUA, PEDRA


A água perfura a pedra,
o vento dispersa a água,
a pedra detém ao vento.
Água, vento, pedra.


O vento esculpe a pedra,
a pedra é taça da água,
a água escapa e é vento.
Pedra, vento, água.

O vento em seus giros canta,
a água ao andar murmura,
a pedra imóvel se cala.
Vento, água, pedra.

Um é outro e é nenhum:
entre seus nomes vazios
passam e se desvanecem.
Água, pedra, vento.




Poesia: Vento, Água, Pedra de Octávio Paz, poeta mexicano.
Imagem: o que me arde é chuva:
http://br.olhares.com/o_que_me_arde_e_chuva_foto1970187.html

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Que destino damos aos nossos destinos








"Há experiências que nos deixam a braços com o lado desconhecido, secreto e autêntico da vida. O Fado é uma delas. Só o compreende quem, mais do que o ouvir, já o escutou ou cantou, num dos poucos templos do seu culto autêntico.[...]
O que torna possível a conversão do destino em destinação, ou a Libertação plena de todas as inevitáveis limitações existenciais, nada compatível com a anestesia, o suicídio lento e o langor do deleite num sofrimento não emancipador. Assim, aos versos do conhecido "Fado é Sorte", de Jaime Mendes - "Bem pensado/ Todos temos nosso fado/ E quem nasce mal fadado/ Melhor fado não terá // Fado é sorte/ E do berço até à morte/ Ninguém foge por mais forte/ Ao destino que Deus dá" -, bem responderia Bocage : "Não forçam corações as divindades: / Fado amigo não há, nem fado escuro;/ Fados são as paixões, são as vontades"."

Excerto de "O fado", de Paulo A. E. Borges (Universidade de Lisboa, disponível em: http://www.pauloborges.net/textos/O%20Fado.pdf Imagens: António Zambujo in Lisboa - http://www.antoniozambujo.com/home.asp?zona=5&template=4&precedencia=0&idioma=1

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Nevoeiro (fragmento)


[...]Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
[...]
É a hora!


Mensagem: Fernando Pessoa

Lua Adversa


Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha


Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.


E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

Poesia de Cecília Meireles
Imagem: Luar disponível em: http://br.olhares.com/luar_foto704109.html

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Todo o sentimento


Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo
Da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar
E urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo o sentimento
E bota no corpo uma outra vez

Prometo te querer
Até o amor cair
Doente
Doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro, com certeza
Talvez num tempo da delicadeza

Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei, como encantado
Ao lado teu

Vídeo: Verônica Sabino
Música: Chico Buarque de Holanda

sábado, 7 de novembro de 2009

Novos olhares...










Imagem I e II: Jardim - Leandro
Imagem III: Museu da Língua Portuguesa 04.07.2009

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Cantáteis: Cantos elegíacos de amozade

[...]quem dança fado d'espera
ou tem olhos de quimera
diásporas e arrenegos
vai bater na caixa-prego
haraquiri ai-ki-dô
sente falta de esquindô
banzo no samba lelê
sinto falta de você
ponte pênsil viaduto
há dias que fico puto
pour quois mon amour por quê?[...]


...Pensar em você

É só pensar em você
Que muda o dia
Minha alegria dá pra ver
Não dá pra esconder
Nem quero pensar se é certo querer
O que vou lhe dizer
Um beijo seu
E eu vou só pensar em você
Se a chuva cai e o sol não sai
Penso em você
vontade de viver mais
Em paz com o mundo e comigo
Se a chuva cai e o sol não sai
Penso em você
Vontade de viver mais
Em paz com o mundo e consigo

Autor: Chico César
Imagem: Xilogravura de Leila Rodrigues

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Da cor brasileira


De quem falo me acha direita
Se casa comigo, se rola e se deita
Me namora quando não devia
E quando eu queria me deixa na mesa
De quem falo me fala macio

E finge que entende o que nem escutou
Me adora e me quer tão somente
Enquanto o que mente é o que acreditou
Esse homem que passa na rua
Que encontro na festa e me vira a cabeça
É aquele que me quer só sua
E ao mesmo tempo que eu seja mais uma
De quem falo ele é feio e bonito
Mais velho e menino, meu melhor amigo
É o homem da cor brasileira
A loucura e besteira
Que dorme comigo
.


Música: Joyce e Ana Terra
Imagem: O homem escondido - Milene Martins

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Motivo


Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta



Irmão das coisas fugidias;

não sinto gozo nem tormento
.

Atravesso noites e dias

no vento.



Se desmorono ou edifico,

se permaneço ou me desfaço,

- não sei, não sei. Não sei se fico


ou se passo



Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada

E um dia sei que estarei mudo:

- Mais nada



Poesia de Cecília Meireles
Imagem: Isabel Cruz - Motivo

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

MADAME BUTTERFLY

Não.
Não me digam nada.
Eu já sei.


Vídeo: MADAME BUTTERFLY - PUCCINI - Ópera

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

...todos juntos, por favor!



Solo le pido a Dios
Que el dolor no me
sea indiferente
Que la reseca muerte no me encuentre
Vacio y solo sin haber echo lo suficiente

Solo le pido a Dios
Que lo injusto no me sea indiferente
Que no me abofeteen la otra mejia
Despues que una garra me arane esta frente


Solo le pido a Dios
Que la guerra no me sea indiferente
Es un monstro grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente
Es un monstro grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente

Solo le pido a Dios
Que el engano no me sea indiferente
Si un traidor puede mas que unos quantos
Que esos quantos no lo olviden facilmente

Solo le pido a Dios
Que el futuro no me sea indiferente
Deshauciado esta el que tiene que marchar
A vivir una cultura diferente
HOMENAGEM À GRANDE MERCEDES SOSA.

Mùsica: Solo Le Pido a Dios Arlo Guthrie / Leon Gieco

domingo, 4 de outubro de 2009

Viceversa


Tengo miedo de verte
necesidad de verte
esperanza de verte
desazones de verte

tengo ganas de hallarte
preocupación de hallarte
certidumbre de hallarte
pobres dudas de hallarte

tengo urgencia de oírte
alegría de oírte
buena suerte de oírte
y temores de oírte

o sea
resumiendo
estoy jodido
y radiante
quizá más lo primero
que lo segundo
y también
viceversa.


quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Namoro


O melhor do namoro, claro, é o ridículo. Mas o Alcyr se passara. Chegara a um extremo de ridículo. Chegara a uma apoteose do ridículo. Ou como você chamaria ter que imitar um cachorro para não descobrirem que era ele no quintal, louco de ciúmes, embaixo da janela da namorada, numa fria noite de agosto? O Alcyr exagerara. Alcyr, que Suzana chamava de Ipsilone, porque aquela fora a primeira coisa que ele lhe dissera.
- Ipsilone.
- Hein?
- Alcyr. É com Ipsilone.
- Ah.
Ela estava preenchendo um formulário para dar entrada no seu pedido, algo a ver com um crediário, não interessa, e precisava de todos os seus dados.
- Estado civil?
- Solteiríssimo.
Daí para a pergunta "Que horas tu larga?" e o convite para tomarem um chope foi um pulo, e do chope para o namoro firme foi outro. Suzana ouvia cantadas e convites o dia inteiro, não era dessas, mas simpatizara com o Alcyr. O Alcyr parecia não ser como os outros. E o ipsilone, sei lá. O ipsilone no nome dele lhe dava uma certa segurança.
- Desliga você.
- Não, desliga você.
- Você.
- Você.
- Então vamos desligar juntos.
- Ta. Conta até três.
- Um... Dois... Dois e meio...
Ridículo porque não era você. Ou era você, e só agora, visto desta distância, ficou ridículo. Porque na hora não era não. Na hora nem os
apelidos secretos que vocês tinham um para o outro, lembra?, eram ridículos. Pisilone. Suzuca. Alcyzanzão. Surussuzuca. Gongonha (Gongonha?). Mamosa. Purupupuca...
Não havia coisa melhor do que passar tardes inteiras num sofá, olho no olho, dizendo:
- As dondozeira ama os dondozeiro?
- Ama.
- Mas os dondozeiro ama as dondozeira mais do que as dondozeira ama os dondozeiro.
- Na-na-não. As dondozeira ama os dondozeiro mais do que etc.
E, entremeando o diálogo, longos beijos, profundos beijos, beijos mais do que de língua, beijos de amígdalas, beijos catetéricos.
Tardes inteiras. Confesse: ridículo só porque nunca mais. Depois do ridículo, o melhor do namoro são as brigas. Aconteceu com o Ipsilone e a Suzana. Brigaram e brigaram feio. Várias vezes.
Aí ela ligava para ele e não dizia nada, e ele:
- Eu sei que é você. Está me controlando, é? O que é, se arrependeu?
Ou ele ligava para ela e, assim que ela atendia, desligava.
Quem diz que nunca, como quem não quer nada, arquitetou um encontro casual com a ex ou o ex só pra ver se ela ou ele está com alguém, ou pra fingir que não vê, ou pra ver e ignorar, ou para dar um abano amistoso querendo dizer que ela ou ele agora significa tão pouco que podem até ser amigos, está mentindo.

Está mentindo.
Imagem: http://br.olhares.com/sera_que_e_namoro_foto401808.html
VERÍSSIMO, Luís Fernando. Correio Braziliense. 13/06/1999.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Imaculada


Meu castelo é a casa da fazenda onde teço minha lenda
Sei, meu príncipe virá
Esse sonho bom que me alimenta a espera é menos lenta
Se o desejo delirar
Eu prefiro assim pois com essa esfera
Domo a fera que há em mim
É Imaculada,

a semente do prazer

rosa ardente,

cor florescer
A criança deixa o paraíso

fadas,

córregos,

sorrisos
A pureza virginal
Planta no seu seio

adolescente

a maçã e a serpente
Do pecado original
Quero ser mulher no lugar e hora
Que meu príncipe quiser
E assim conquistada pela espada do querer
continua a ser imaculada.


Música: Elba Ramalho.

sábado, 12 de setembro de 2009

Economia e generosidade

Dá de ti! Quanto puderes:
O talento, a energia, o coração...
Dá de ti para os homens e as mulheres
Como as árvores e as fontes dão...
Não somente o sapato que não queres
E a capa que não usas no verão.

Darás sem refletir, sem ser notado
De modo que ninguém diga: “obrigado”
Não te deva dinheiro ou gratidão.
E com espanto, notarás um dia,
Que viveste fazendo graças,
De talento,
energia
e coração.



Giuseppe A. Ghiarone: Jornalista e Poeta
Imagem: Bromélia

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Lusofonia

O Crocodilo andou, andou, andou. Exausto, parou, por fim, sob um
céu de turquesa e -
Oh! Prodígio
- transformou-se em terra e terra
para todo o sempre ficou. Terra que foi crescendo, terra que foi se
alongando e alteando sobre o mar imenso, sem perder por completo,
a configuração do crocodilo. O rapaz foi seu primeiro habitante e
passou a chamar-lhe Timor, isto é, Oriente.
(Mito timorense: O Primeiro Habitante do Timor)1


Floriram cravos vermelhos
Estrelas brilharam
E em Loro Sae
Tudo cheirava a liberdade
Mas de repente escureceu
Então Xanana acendeu a chama
Levando sua gente a guerrilhar

Muitos morreram
Todos sofreram
Mas a vitória chegou

Valeu lutar

O mundo aplaudiu Xanana
Também os heróis sem nome
E belo Dom Ximenes
Festejou com as Falintil

Era o sol a brilhar
Era a luz que surgiu
É a paz, é o amor, Gusmão
Eu gritei do Brasil
Viva o Timor Leste!

Nasceu mais um país irmão!

Viva Timor Leste: Martinho da Vila e Rildo Hora
Martinho da Vila é um legítimo representante da MPB e compositor eclético, tendo trabalhado com o folclore e criado músicas dos mais variados ritmos brasileiros, tais como ciranda, frevo, côco, samba de roda, capoeira, bossa nova, calango, samba-enredo, toada e sembas africanos.Seu espírito de pesquisador incansável, viaja desde o disco 'O canto das lavadeiras', baseado no folclore brasileiro, lançado em 1989, até o mais recente trabalho 'Lusofonia', lançado no início de 2000, reunindo músicas de [...] países de língua portuguesa.
Timor-Leste, país de colonização portuguesa até os anos 70 do século passado, tornou-se de modo violento colônia da Indonésia, e assim permaneceu, durante as três últimas décadas do século XX, até que se
tornou país independente.

Imagem: Uma flor que quer olhares - Pedro Ivo http://br.olhares.com/uma_flor_que_quer_olhares_foto2074017.html

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A uma criança que dança no vento




Dança aí junto ao mar;
Que te importa

O rugido da água, o rugido do vento?
Sacode a tua cabeleira
Molhada de gotas de sal;
Tu que és tão jovem ignoras
O triunfo do néscio, não sabes
Que o amor mal se ganha e logo se perde,
Nem viste morrer o melhor operário
E todos os feixes por atar.
Por que hás-de temer
O terrível clamor dos ventos?






William Butler Yeats: nasceu em 1865, na cidade de Dublin na Irlanda. Poeta e dramaturgo, foi laureado com o Prêmio Nobel e Literatura em 1923.

sábado, 5 de setembro de 2009

Melodia Sentimental


Acorda, vem ver a lua
Que dorme na noite escura
Que surge tão bela e branca
Derramando doçura
Clara chama silente
Ardendo meu sonhar
As asas da noite que surgem
E correm o espaço profundo
Oh, doce amada, desperta
Vem dar teu calor ao luar
Quisera saber-te minha
Na hora serena e calma
A sombra confia ao vento
O limite da espera
Quando dentro da noite
Reclama o teu amor
Acorda, vem olhar a lua
Que dorme na noite escura

Querida, és linda e meiga
Sentir meu amor e sonhar.



Composição Dora Vasconcellos / Heitor Villa-Lobos
Imagem: MUBE - Grafite

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Desencanto


Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

Manuel Bandeira
.

domingo, 23 de agosto de 2009

Do que Nada se Sabe

A lua ignora que é tranquila e clara
E não pode sequer saber que é lua;
A areia, que é a areia. Não há uma
Coisa que saiba que sua forma é rara.
As peças de marfim são tão alheias
Ao abstracto xadrez como essa mão
Que as rege. Talvez o destino humano,
Breve alegria e longas odisseias,
Seja instrumento de Outro. Ignoramos;
Dar-lhe o nome de Deus não nos conforta.
Em vão também o medo, a angústia, a absorta
E truncada oração que iniciamos.
Que arco terá então lançado a seta
Que eu sou? Que cume pode ser a meta?



Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda"
Imagem: Só a lua sabe quem eu sou...(Pedro Sousa)

domingo, 16 de agosto de 2009

Nostalgias geométricas.



Eu fiz um samba quadrado pra você sentir
Que quanto maior a distância
Maior é o fim
Eu fiz da rua escura
Pedaço de lua pra te iluminar
Eu fiz de versos mais rimas

Palavras e cismas
Pra te chatear
Eu fiz samba quadrado pra você voltar
Eu fiz da viola a desculpa
Pra me consolar
Eu fiz do ontem o hoje
E do hoje o amanhã
Pra te ver aqui
Mas é bem melhor
Para o mundo eu chorar
Pra você eu mentir
[...]

Milton Carlos e Isolda - Samba quadrado
Imagem: Reflexos Geométricos - Luanabr disponível em: http://br.olhares.com/reflexos_geometricos_foto720980.html

domingo, 9 de agosto de 2009

O padre que sonhou andar pelo ar*


“O homem primeiro tropeça, depois anda, depois corre, um dia voará.”
Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão (1685-1724)


Há 300 anos, Bartolomeu de Gusmão fez voar um pequeno balão de papel que permitiria dominar o mundo. Hoje, Lisboa homenageia o homem que inventou a passarola.
Há três séculos, Bartolomeu de Gusmão, um jovem luso-brasileiro, nativo de Santos, sonhou construir um "instrumento de andar pelo ar". E decidiu oferecer o incrível prodígio a D. João V...
[...]Quando, a 8 de Agosto de 1709, o jovem santista procedeu à bem sucedida e histórica experiência "no pátio da Casa da Índia, diante de S. Majestade e muita fidalguia e gente, com um
globo que subiu suavemente à altura da sala das Embaixadas, e do mesmo modo desceu, elevado de certo material que ardia, e a que aplica o fogo o mesmo inventor", pareceu, então, que tudo não passara de um pequeno e divertido truque do jovem Bartolomeu.

[...] O facto de o Brasil ter acenado à metrópole com uma inovação "tecnológica" de tal monta toldava a lógica da superioridade cultural face à colónia sul-americana: vindo de quem vinha, maculado pela traição de um fiel servidor e protegido de Sua Majestade, e pela propalada apostasia de última hora (a renúncia ao catolicismo), o facto de voar, não sendo ave nem anjo, exponenciou em muito o alarme político e teológico em torno de tão "diabólico" artefacto"...


JOAQUIM FERNANDES - Historiador (Universidade Fernando Pessoa) e autor do livro 'Mitos, Mundos e Medos. O Céu na Poesia Portuguesa' a publicar em breve pela Temas & Debates

sábado, 1 de agosto de 2009

Faz-me o favor...



Faz-me o favor
de não dizer
absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és nao vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor,
muito melhor!
Do que tu.
Não digas nada.


Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.


Imagem: http://br.olhares.com/espelhos_ii_foto776896.html - GeO Mendes

Poesia: Mário Cesariny

sábado, 25 de julho de 2009

Canção de amigo

Ondas do mar de Vigo,

se vistes meu amigo?

E ai Deus, se verra cedo!


Ondas do mar levado,

se vistes meu amado?

E ai Deus, se verra cedo!

Se vistes meu amigo,


o por que eu sospiro?

E ai Deus, se verra cedo!

Se vistes meu amado,


por que ei gram coidado?

E ai Deus, se verra cedo!

Tradução

Ondas do mar de Vigo,

acaso vistes meu amigo?

Queira Deus que ele venha cedo!

Ondas do mar agitado,

acaso vistes meu amado?

Queira Deus que ele venha cedo!

Acaso vistes meu amigo

aquele por quem suspiro?

Queira Deus que ele venha cedo!

Acaso vistes meu amado,

por quem tenho grande cuidado (preocupado) ?

Queira Deus que ele venha cedo!

Texto: Martim Codax: trovador-jogral da época de Afonsso III (meados do século XIII). “Dele só nos restam sete cantigas d’amigo, que se caracterizam por um delicioso primitivismo poético e pelo fato de serem seis destas composições as únicas cantigas trovadorescas acompanhadas da respectiva notação musical”
(S. Spina) http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/imprimir.php?item=literatura/docs/trovadorismo
Vídeo: Concerto de Socorro Lira (Brasil), Vozes da Radio (Portugal) e Luar Na Lubre (Galicia). Dende o Verbum de Vigo :http://pontenasondas.d12.dinaserver.com/beta/index

sexta-feira, 24 de julho de 2009

segunda-feira, 20 de julho de 2009

51

– Não, não se fazem mais velhos como antigamente.
– É verdade. Não se fazem.
– Veja você. Você está com 54. Lembra quando você era jovem, 54 era um velhinho, não era?
– Avô, avô...
– Então. E as mulheres de 54?
– Bisavós, bisavós...
– Não exagera. Avós, também. Aliás, mulher de 40 já tava velhinha. Todas de preto. Iam à igreja. A mãe da gente tinha 40, né? Era uma santa, né? Imagina se fazia os que as de 40 fazem hoje...
– Onde é que você quer chegar
?
– É que a nossa geração mudou tudo. Mudou até a velhice. A gente é de uma turma que rompeu com tudo. Esse negócio de Beatles, Rolling Stone, pílula, tropicalismo, isso fez mudar tudo.
– Prossiga.
– É que a gente mudou os velhos que a gente ia ser. Veja a sua roupa. Você está vestido igual a um cara de 20, 30 anos. Você não está de terno e gravata como os cinqüentões de antigamente.
– Você está é justificando a nossa velhice.
– Que velhice, cara! Você hoje faz tudo que um cara de
20 faz.
– Mais ou menos, mais ou menos.
– A nível comportamental...
– A nível, cara?
– Desculpa, mas comportalmente falando, ficou tudo igual. O cara de hoje, com 50, não se comporta mais como um cara de 50 dos anos 50. Nivelou, entendeu?
– Explica melhor.
– As meninas também. As nossas amigas de 40, por exemplo.
– Melhor não citar nomes.
– É que hoje elas fazem coisas que a gente não poderia imaginar que a mãe da gente fizesse com a idade delas. Estão todas aí, inteiraças. Liberadas, está
entendendo? Mandando ver. E nós também. Fora que tem o Viagra que – dizem, dizem – vai segurar mais pra frente.
– Você já usou?
– O quê?
– Viagra.
– O que é isso cara? Ouvi falar, ouvi falar. Mesmo porque não se conhece ninguém no mundo que assuma que já tomou. Parece que existe um acordo lá entre eles. Ninguém conta. É de lei. Mas não desvia o assunto. Eu não estou falando no desempenho sexual. Estou falando de cabeça. Nivelou tudo. E, pra sorte nossa, nivelou por baixo. Veja a roupa do seu filho. Igual à sua. Antigamente um cara de 23 se vestia completamente diferente de um cara de 53. Ou você alguma vez viu o seu pai de tênis? (nem de pênis) Acho que até para jogar tênis ele devia jogar de sapato.
– Se a gente então não está velho, vai ficar velho quando?
– Pois é aí que eu quero chegar. Não existe mais a velhice. Nos anos 60 a gente fez tanta zorra que, sem querer, garantimos o nosso futuro sem velhice. Pode escrever aí. Não existe mais velhice.
– Ficamos imortais?
– Quase. Antigamente o sujeito começava a morrer mais cedo. Ficava uns 10, 15 anos morrendo. Agora não, ela vai ficar até os 80, 90. Daí ele fica doente e morre logo. Acabou a agonia. Pensa bem: a gente está com 50. Temos mais uns 30 pela frente. Firmes. É isso, cara: não existe mais a velhice. E fomos nós que
detonamos com ela.
– Mas tem o cabelo branco, as rugas, a barriguinha...
– Detalhes, cara, detalhes. O cabelo branco, a ruga e a barriguinha hoje em dia são encarados como charme. Mesmo porque os cabelos não ficam mais tão brancos como nos nossos pais. E as rugas também. Os velhos estão cada vez com menos rugas. E pra barriguinha estão aí as academias. Tem as fórmulas.
– E isso vale também para as mulheres, né?
– Principalmente. Eu estava falando nas nossas amigas de 40. Pega as de 50. Tudo com corpinho de 30. Cabeça de 20. Tão até melhores do que nós, cara.
– Peraí, a sua namorada não tem nem 30.
– E isso me preocupa. Tem cabeça de 50. De 50 das antigas. O que serve para a nossa geração, não serve para a nova geração. Resumindo: não existe velhice para a nossa geração. A gente batalhou isso. Agora essa nova geração que vem aí vai envelhecer. Se ela quiser continuar a ser como a gente, vai acabar sendo igual aos nossos pais, como diria o grande Belchior.
– Eu não estou entendendo aonde é que você quer chegar.
– Quero chegar nos 90. Me passa o uísque. Me passa o fumo. Me passa o Viagra. Me passa a saudade que eu tenho dos meus 20 anos. Me passa a vida a limpo. E mete os Beatles aí na radiovitrola. Help, please.






Cinquentões - Mario Prata em:http://www.marioprataonline.com.br/obra/cronicas/cinquentoes.htm

sábado, 18 de julho de 2009

Frase do dia...para a vida toda.
















“Não sabendo que era impossível, foi lá e fez.”
Frase: Jean Cocteau -Nascido numa pequena vila, próxima a Paris (França), Jean Cocteau foi um dos mais talentosos artistas do século XX. Além de ser diretor de cinema, foi poeta, escritor, pintor, dramaturgo, cenógrafo, ator e escultor.
Atuou ativamente em diversos movimentos artísticos, como o conhecido Groupe des Six (Grupo dos Seis). Cocteau foi eleito membro da Academia Francesa em 1955.
Imagens: OFICINA de ARGILA - MUBE 04.07.2009

quinta-feira, 16 de julho de 2009

As faces do amor (algumas)


Que mulher não queria ter sido a inspiração para essa linda poesia e canção?
Essa música tem sua originalidade preservada pela força que emana da homenagem que faz à mulher no conceito, aparentemente comum, do ELA.

Tous les visages de l'amour
Charles Aznavour


Toi, par tes mille et un attraits
Je ne sais jamais qui tu es
Tu changes si souvent de visage et d'aspect

Toi quelque soit ton âge et ton nom
Tu es un ange ou le démon
Quand pour moi tu prends tour à tour
Tous les visages de l'amour

Toi, si Dieu ne t'avait modelé
Il m'aurait fallu te créer
Pour donner à ma vie sa raison d'exister

Toi qui est ma joie et mon tourment
Tantôt femme et tantôt enfant
Tu offres à mon cÂœur chaque jour
Tous les visages de l'amour

Moi, je suis le feu qui grandit ou qui meure
Je suis le vent qui rugit ou qui pleure
Je suis la force ou la faiblesse

Moi, je pourrais défier le ciel et l'enfer
Je pourrais dompter la terre et la mer
Et réinventer la jeunesse

Toi, viens fais moi ce que tu veux
Un homme heureux ou malheureux
Un mot de toi je suis poussière ou je suis Dieu

Toi, sois mon espoir, sois mon destin
J'ai si peur de mes lendemains
Montre à mon âme sans secours
Tous les visages de l'amour

Toi ! tous les visages de l'amour



Todos os rostos do amor...

Tu... por teus mil e um atrativos
Jamais saberei quem tu és...
Tu mudas frequente de rosto e de aspecto...

Tu... quaisquer que sejam tua idade e teu nome
Ora és um anjo... ora um demônio
Quando para mim tomas volta a volta
Todos os rostos do amor...

Tu... se deus não te houvesse modelado
Ele me faria a necessidade de criar-te
Para dar à minha vida razão de existir...

Tu... que és o meu prazer e o meu tormento
Tanto és mulher... tanto és criança...
Ofereces-me ao coração em cada dia
Todos os rostos do amor...

Eu... eu sou o fogo que se inflama ou que morre
Eu sou o vento que ruge ou que chora
Eu sou a força ou a fraqueza...

Eu... eu poderei desafiar o céu e o inferno
Eu poderei superar a terra e o mar
E reinventar a juventude...

Tu... vem fazer de mim o que quiseres
Um homem feliz ou infeliz...
Uma palavra tua e serei pó ou serei deus...

Tu... sê minha esperança... sê meu destino
Eu tenho medo dos meus amanhãs...
Mostra à minha alma sem socorro
Todos os rostos do amor...

Tu...
Todos os rostos do amor......



música: http://www.youtube.com/watch?v=jLLogLQBxbU
Imagem: Grafite no MUBE - julho 2009.

domingo, 12 de julho de 2009

Dúvida cruel


Imagem: Museu da Língua Portuguesa: A França no Brasil. Julho 2009.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Uma música, uma onda.


Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci

Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

E que venho até remoçando
Me pego cantando
Sem mas nem porque
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você

Quando talvez precisar de mim
‘Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz
...





Essa maravilhosa criação do não menos maravilhoso Chico Buarque de Holanda (do Brasil, ainda bem!) traduz um momento importante da minha vida.

Na banalidade do corriqueiro retratado no rompimento de um amor (e quantos relacionamentos não se rompem e se restauram todos os dias?), ele enobrece e traz profundidade ao que é aparentemente banal, quando escolhe, recorta e transforma em objeto de poesia.

O meu momento, não foi exatamente um fim de romance, porque os momentos de romance foram poucos, foi o fim de uma etapa de angústias e frustrações acumuladas durante um longo período, em torno de quatro anos, porque quatro anos é um período longo para quem ama e espera estar junto. Uma onda forte se encarregou de dispersar (ou de enquadrar em outras categorias?) os sentimentos que se acumularam, tal qual os enroscos quando vão se sobrepondo, uns aos outros, galhos sobre galhos, reduzindo o fluxo da água na curva do rio...

Essa música é a onda, em forma de poesia, que demarca essa ruptura e inagura novos sentimentos, novos tempos, porque o rio nunca é o mesmo e nós também não somos.


Olhos nos olhos: composição de Chico Buarque de Holanda, na voz potente de Maria Bethânia. http://www.youtube.com/watch?v=ZZA__cQquyc
Imagem: exposição de grafite no MUBE, julho 2009.

domingo, 28 de junho de 2009

Casa no Campo




Eu quero uma casa no campo


Onde eu possa compor muitos rocks rurais


E tenha somente a certeza


Dos amigos do peito e nada mais


Eu quero uma casa no campo


Onde eu possa ficar no tamanho da paz


E tenha somente a certeza


Dos limites do corpo e nada mais


Eu quero carneiros e cabras pastando solenes


No meu jardim


Eu quero o silêncio das línguas cansadas


Eu quero a esperança de óculos


Meu filho de cuca legal


Eu quero plantar e colher com a mão


A pimenta e o sal


Eu quero uma casa no campo


Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé


Onde eu possa plantar meus amigos


Meus discos e livros


E nada mais...




Composição: Zé Rodrix e Tavito


Imagem: Alpendre - Maria Emília H. da Costa http://br.olhares.com/alpendre_foto893412.html

sábado, 27 de junho de 2009

Matérias de muito amar...



Estampas de Vila Rica II
São Francisco de Assis

Senhor, não mereço isto.
Não creio em vós para vos amar.
Trouxestes-me a São Francisco
e me fazeis vosso escravo.

Não entrarei, Senhor, no templo,
seu frontispício me basta.
Vossas flores e querubins
são matéria de muito amar.

Dai-me, Senhor, a só beleza
destes ornatos. E não a alma.
Pressente-se dor de homem,
paralela à das cinco chagas
.

Mas entro e, Senhor, me perco
na rósea nave triunfal.
Por que tanto baixar o céu?
Por que esta nova cilada?

Senhor, os púlpitos mudos
entretanto me sorriem.
Mais que vossa igreja, esta
sabe a voz de me embalar.

Perdão, Senhor, por não amar-vos.

A Igreja de São Francisco de Assis da Penitência, em Ouro Preto, Minas Gerais, é uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa do Mundo. Dezesseis países participaram, com vinte e sete obras. Os critérios para a escolha consideraram o valor histórico e patrimonial e a importância das obras para o mundo.

Aleijadinho - Filho do mestre-de-obras português Manuel Francisco Lisboa e da escrava Isabel, o arquiteto, escultor e entalhador Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, nasceu em Vila Rica, hoje Ouro Preto, e é considerado a maior expressão da arte brasileira de todos os tempos.

Manuel da Costa Ataíde - Pintor brasileiro nascido em Mariana, MG, é considerado o maior expoente da pintura barroca mineira e brasileira. A pintura do teto da igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto, representando a 'Assunção da Virgem' é a sua obra mais famosa.

Poesia: ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética.
32.ed. Rio de Janeiro: Record, 1996, p.53-54

Imagem: Teto da Igreja de São Francisco de Assis (Ouro Preto - MG), obra-prima do pintor Manuel da Costa Ataíde (1762-1837).

Imagem: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/85/SFrancisOuroPreto-CCBY.jpg/300px-SFrancisOuroPreto-CCBY.jpg

Para saber mais:http://www.7maravilhas.sapo.pt/#/27Maravilhas/Vencedores

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Grande Noel...


ÚLTIMO DESEJO


Nosso amor que eu não esqueço
E que teve seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete
Sem retrato e sem bilhete
Sem luar e sem violão
Perto de você me calo
Tudo penso nada falo
Tenho medo de chorar
Nunca mais quero seu beijo
Mas meu último desejo
Você não pode negar

Se alguma pessoa amiga
Pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não
Diga que você me adora
Que você lamenta e chora
A nossa separação

Às pessoas que eu detesto
Diga sempre que eu não presto
Que meu lar é um botequim
E que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida
Que você pagou pra mim





Composição: Noel Rosa
Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=EM9TNdeIEHM - Nelson Gonçalves
Imagem: São João - http://br.olhares.com/linamag

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A história da nossa ilusão














Agora é me dedicar
inteiramente ao nosso amor
cantar nossa música
agora é só decidir
aonde queremos ir
armar nossa tenda

já que a nossa varanda vai ser
a estrada da vida

por onde o sol passará
e a lua também virá
contar nossa lenda

e os tempos futuros, vão
saber como foi
escrever nos muros, vão
nas pedras do chão
a história da nossa ilusão.

Interpretação: Gilberto Gil
Imagem: Retratos da Vida - http://br.olhares.com/gemersondias

sábado, 13 de junho de 2009

Café da manhã especial...


-Não, mãe... não precisa me segurar, eu sei andar sozinho.
Depois de algumas insistências, soltei a bicicleta.
Deixei, então, que ele fosse.
E lá se foi meu pequeno, andando de bicicleta, em duas rodas... sem as rodinhas traseiras auxiliares...sem a ajuda das duas mãos (teimosas) da mãe.
- ... deixa que eu te ajudo mãe!
E pegava a alça do carrinho de cortar grama e seguia...
O carrinho o conduzia, e lá ia ele, acreditando que estava sendo ele, o condutor do cortador de grama pelo enorme quintal...
São esses espisódios, dentre outros, que vou narrar talvez, um dia, nas minhas memórias de mãe.
É só um aperitivo.
Ele é muito maior.
Na altura, no abraço, na bondade, na integridade, na espontaneidade.
Filho, que você continue sendo o 'condutor' dos seus sonhos.
Que nada tire tudo de bom que você tem.
Meus Parabéns.
Te amo.


Mãe

Imagem: Leandro
Música: http://www.youtube.com/watch?v=2gv62KbSBQM

sexta-feira, 12 de junho de 2009

quinta-feira, 11 de junho de 2009

"CORPUS CHRISTI"


História da festa de "CORPUS CHRISTI" no Brasil

A festa foi trazida para o Brasil pelos portugueses. No Brasil, numa carta de 9 de agosto de 1549, o Padre Manuel da Nóbrega, da Bahia, informava: “Outra procissão se fez dia de Corpus Christi, mui solene, em que jogou toda a artilharia, que estava na cerca, as ruas muito enramadas, houve danças e invenções à maneira de Portugal”. (Cartas do Brasil, 86, Rio de Janeiro, 1931).
As procissões portuguesas eram esplendorosas: tropas, fidalgos, cavaleiros, andores, danças e cantos. A imagem de São Jorge, padroeiro de Portugal, seguia a procissão montada em um cavalo, rodeada de oficiais de gala.

A tradição de enfeitar as ruas surgiu em Ouro Preto, cidade histórica do interior de Minas Gerais.

domingo, 7 de junho de 2009

Com olhos de criança

Henri Matisse

O desenho é a possessão. A cada linha deve corresponder outra linha que faça um contrapeso, da mesma forma que se abraça, que se possui com dois braços. A vontade de possessão é mais ou menos forte segundo cada ser; há quem deseja frouxamente. (a Paule Martin, 1949-50)
"Criar é próprio do artista; onde não há criação, a arte não existe. Mas seria enganoso atribuir este poder criador a um dom inato. Em matéria de arte, o criador autêntico não é apenas um ser dotado; é um homem que soube ordenar para sua finalidade todo um facho de atividades cujo resultado é a obra de arte. É assim que para o artista, a criação começa na visão. Ver, isso já é uma operação criadora, que exige esforço. Tudo o que vemos na vida diária sofre mais ou menos a deformação produzida pelos hábitos adquiridos, e o fato é talvez mais sensível numa época como a nossa, onde o cinema, a publicidade e as revistas nos impõem cotidianamente um fluxo de imagens prontas que são um pouco, na ordem da visão, o que é o preconceito na ordem da inteligência. O esforço necessário para se desvencilhar disso exige uma espécie de coragem; e esta coragem é indispensável ao artista que deve ver todas as coisas como se as tivesse vendo pela primeira vez; é preciso ver toda a vida como quando se era criança; e a perda dessa possibilidade vos retira a de vos exprimir de uma maneira original, isto é, pessoal.
Para tomar um exemplo, penso que nada é mais difícil para um verdadeiro pintor do que pintar uma rosa, porque, para fazê-lo, é-lhe preciso primeiro esquecer todas as rosas pintadas. Aos visitantes que vinham me ver em Vence, eu muitas vezes perguntei: “Vocês viram os acantos, sobre os declives que margeiam a estrada?”. Ninguém os tinha visto; todos teriam reconhecido a folha de acanto sobre um capitel coríntio, mas ao natural, a lembrança do capitel impedia de ver o acanto. Ver cada coisa na sua verdade é um primeiro passo em direção à criação, e isto supõe um esforço contínuo.
Criar é exprimir o que se tem em si. Todo esforço autêntico de criação é interior. Ainda assim é preciso alimentar seu sentimento, o que se faz com a ajuda dos elementos tirados do mundo exterior. Aqui intervém o trabalho pelo qual o artista incorpora, assimila gradativamente para si o mundo exterior, até que o objeto que ele desenha tenha se tornado como parte dele mesmo, até que ele tenha em si e que possa projetá-lo na tela como sua própria criação.
Quando pinto um retrato, eu tomo e retomo meu estudo, e é cada vez um novo retrato que faço: não o mesmo que corrijo, mas um outro retrato que recomeço; e é cada vez um ser diferente que eu extraio da mesma personalidade. Tem me acontecido freqüentemente, para esgotar mais completamente meu estudo, de me inspirar em fotografias de uma mesma pessoa em idades diferentes: o retrato definitivo poderá representá-la mais jovem, ou sob um aspecto diferente daquele que ela oferece no momento em que posa, porque é este aspecto que me terá parecido o mais verdadeiro, mais revelador de sua personalidade.
O obra de arte é dessa forma o resultado de um longo trabalho de elaboração. O artista busca a seu redor tudo o que é capaz de alimentar sua visão interior, diretamente – quando o objeto que ele desenha deve figurar em sua composição – ou por analogia. Ele se põe assim em estado de criar. Ele se enriquece interiormente de todas as formas nas quais ele se torna mestre e que ele ordenará algum dia segundo um ritmo novo.
É na expressão deste ritmo que a atividade do artista será realmente criadora; ser-lhe-á necessário, para alcançar isto, tender para o despojamento mais do que para a acumulação de detalhes; escolher, por exemplo, no desenho, entre todas as combinações possíveis, a linha que se revelará plenamente expressiva, e como que portadora de vida; pesquisar estas equivalências pelas quais os dados da natureza se acham transportados para o domínio próprio da arte. Na “Nature morte au magnólia” ("Natureza morta com magnólia"), representei em vermelho uma mesa de mármore verde; em outro lugar, precisei de uma mancha preta para evocar o reflexo do sol no mar; todas estas transposições não eram nem um pouco o efeito do acaso, ou sabe lá de que fantasia, mas sim o resultado de uma série de pesquisas, em seguida das quais estas tintas me pareciam necessárias, visto sua relação com o resto da composição, para dar a impressão desejada. As cores, as linhas são forças, e no jogo dessas forças, no seu equilíbrio, reside o segredo da criação.
Na capela de Vence, que é o resultado de minhas investigações anteriores, eu tentei realizar esse equilíbrio de forças; os azuis, os verdes, os amarelos dos vitrais compõem no interior uma luz que não é, propriamente falando, nenhuma das cores empregadas, mas o produto vivo de sua harmonia, de suas relações recíprocas; essa cor-luz era destinada a brincar sobre o campo branco bordado de preto da parede em frente aos vitrais, e sobre a qual as linhas são voluntariamente muito espaçadas. O contraste me permite dar à luz todo o seu valor de vida, torná-la elemento essencial, aquele que colore, aquece, anima realmente este conjunto no qual importa dar uma impressão de espaço ilimitado apesar de suas dimensões reduzidas. Em toda essa capela, não há uma linha, um detalhe que não concorra para dar essa impressão.
É neste sentido, me parece, que se pode dizer que a arte imita a natureza: pelo caráter de vida que confere à obra de arte um trabalho criador. Então a obra aparecerá assim fecunda, e dotada desse mesmo frêmito interior, dessa mesma beleza resplandecente que as obras da natureza também possuem. É necessário um grande amor, capaz de inspirar e de sustentar esse esforço contínuo em direção à verdade, essa generosidade reunida a esse despojamento profundo que a gênese de toda obra de arte implica.
Mas o amor não está na origem de toda criação? "



(Idéias coletadas por Régine Pernoud, Le Courrier de l’ UNESCO, vol. VI, nº. 10, outubro de 1953.)