sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Teoria e prática








"[...]duas formas se situam. Uma delas sobrepõe outra, mais geométrica. A forma maior fica por trás dessas duas: quatro planos, então, se desenrolam. Essa sobreposição de planos é incessante e num movimento circular brusco em direção ao plano superior da obra, sua profundidade se organiza. É uma profundidade abstrata iluminada por uma luz clara, sem foco específico..."
"[...]as estruturas estão permanentemente expostas, discutindo questões clássicas da escultura como movimento, tensão e equilíbrio. A física, a astronomia e a matemática orientam a prática do artista, revelando-se no arranjo espacial dos objetos e na ênfase dada aos campos vazios, entendidos como matéria. Com delicada precisão, objetos ordinários (bolinhas de gude, linhas, pesos de chumbo) se acoplam a materiais como madeira, aço, vidro, emprestando-lhes novos sentidos de caráter existencial."


http://www.carlosbevilacqua.com.br
http://www.girafamania.com.br/historia_arte/historia_arteabstrata.htm#Kandinsky

domingo, 23 de novembro de 2008

Era uma vez uma menina (presa) na fotografia...



“Nesta situação absurda, o personagem, um aluno dos primeiros anos do falecido ginásio, ficou paralisado no tempo e relata o que entreviu da história recente do país”, conta Bonassi, completando que esse menino “somos todos nós, os brasileiros nascidos na primeira metade dos anos 60, que aprendemos a nos acostumar e a acumular frustrações”. (Fernando Bonassi)

O espaço da escola sempre havia me fascinado e por um estranho desejo de permanecer a vida toda naquele não-lugar; Eu, desde criança, havia me apaixonado por todas as escolas por onde havia passado e a minha paixão pelo estudo me faria, finalmente, retornar, ingressando na PUCCAMP, no curso de Educação Artística. Já no segundo ano do curso, fui dar aulas em caráter excepcional, em uma escola da Rede Estadual, em Hortolândia. Mesmo sem ainda estar formada, ser professora era exatamente o que eu buscava e ser professora de artes me conferia um privilégio que poucos professores tinham: a preferência das crianças, desde os anos iniciais até a 8ª série. Mergulhava com as crianças e observava como cada uma correspondia às diferentes propostas: desenhos, teatro, música, dança, folclore. Buscava caminhos através de diversas formas de expressão para oportunizar a todos e a cada um para que se manifestassem em seus sentimentos, suas emoções, sobretudo àqueles que diziam que ‘não sabiam fazer’. Nos guardados ainda tenho desenhos, fotos, composições, colagens que são fragmentos desse percurso que traçamos juntos, os alunos e eu e que contam histórias que as palavras não traduzem, pela autenticidade, pela originalidade com que eram produzidos. Era isso - havia, pra mim, encontrado a fórmula do 'ser-professora' - evocar nas crianças suas manifestações genuínas, recusando qualquer forma de cópia.


Fragmento do relatório elaborado à FAPESP, 2008.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O caminho do mar do Oriente


"O Tokaido (O Caminho do mar do Oriente) era a principal via terrestre do Japão feudal. Percorria cerca de 500 km entre a antiga capital imperial, Quioto e a verdadeira capital - Edo (Tóquio), capital militar dos Tokugawa.

As 53 estações (sem contar com a do início e do término), situadas ao longo do caminho, abrigavam não apenas as comitivas dos senhores feudais mas todo o tipo de viajantes, mercadores, peregrinos e camponeses. Viajar nesta estrada, tão concorrida, era uma aventura pelas surpresas, riscos e dificuldades e também pelas intempéries que particularmente no Inverno assolavam a região.

O caminho do Tokaido teria provavelmente caído no esquecimento, se não tivesse sido imortalizado pelos maiores mestres da arte da estampa japonesa."

Fonte:http://www.gulbenkian.pt/index.php?object=160&article_id=1092
Imagem:
http://www.geocities.com/Tokyo/Pagoda/1787/hiroshige.html

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Sem fantasia


Vem, meu menino vadio
Vem, sem mentir pra você
Vem, mas vem sem fantasia
Que da noite pro dia
Você não vai crescer

Vem, por favor não evites
Meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos
Vou te envolver nos cabelos
Vem perde-te em meus braços
Pelo amor de Deus

Vem que eu te quero fraco
Vem que eu te quero tolo
Vem que eu te quero todo meu

Ah, eu quero te dizer
Que o instante de te ver
Custou tanto penar
Não vou me arrepender
Só vim te convencer
Que eu vim pra não morrer

De tanto te esperar
Eu quero te contar
Das chuvas que apanhei
Das noites que varei
No escuro a te buscar
Eu quero te mostrar
As marcas que ganhei
Nas lutas contra o rei
Nas discussões com Deus
E agora que cheguei
Eu quero a recompensa
Eu quero a prenda imensa
Dos carinhos teus


Chico Buarque - para a peça 'Roda Viva'(1967)
Vídeo: Chico e Bethânia http://www.youtube.com/watch?v=vSY8xSrymnM
Imagem: Trinta cabeças - Gil Vicente

domingo, 16 de novembro de 2008

Vestíbulo




"Na cultura chinesa a pérola é muito poderosa: é considerada como "O Tear dos Deuses". A Pérola é dada aos jovens, solteiros chineses, para ajudá-los a encontrar sua alma-gêmea; Para as filhas jovens, quando elas chegam à adolescência, os pais as presenteiam porque a pérola simboliza a guarda da pureza.
A pérola também é utilizado como potencializador de força e energia."

Querida, confie em si mesma, mas não duvide das civilizações milenares e use uma pérola no dia de hoje.
Besos e boa sorte.

Mamy


Etimologia
lat. vestibùlum,i 'pórtico, alpendre, entrada; soleira; espaço entre a porta de entrada de uma casa e a rua; o entrar (num assunto), começo, intróito'.




Fontes:





sábado, 15 de novembro de 2008

se me comovesse o amor

Se me comovesse o amor como me comove
a morte dos que amei, eu viveria feliz. Observo
as figueiras, a sombra dos muros, o jasmineiro
em que ficou gravada a tua mão, e deixo o dia

caminhar por entre veredas, caminhos perto do rio.
Se me comovessem os teus passos entre os outros,
os que se perdem nas ruas, os que abandonam
a casa e seguem o seu destino, eu saberia reconhecer

o sinal que ninguém encontra, o medo que ninguém
comove. Vejo-te regressar do deserto, atravessar
os templos, iluminar as varandas, chegar tarde.

Por isso não me procures, não me encontres,
não me deixes, não me conheças. Dá-me apenas
o pão, a palavra, as coisas possíveis. De longe.

Francisco José Viegas
Vídeo - Ricardo A. Pereira: http://www.quasi.com.pt/product_info.php?products_id=51260

quinta-feira, 13 de novembro de 2008


Solidão anda de muda
Sei pra sempre te amarei
Procurei por essas curvas
Quem no Tororó deixei


Texto: Fragmento de 'Argila' de Carlinhos Brown
Imagem: Leve, contigo.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Escolha


Eu te amo como quem esquece tudo
diante de um beijo:
as inúmeras horas desbeijadas
os terríveis desabraços
os dolorosos desencaixes
que meu corpo sofreu longe do seu.
Elejo sempre o encontro
Ele é o ponto do crochê.
Penélope invertida
nada começo de novo
nada desmancho
nada volto

Fragmento de 'Escolha' - Elisa Lucinda
Imagem - "Pôr do sol na praia"- António Durães - disponível em:http://www.1000imagens.com/


domingo, 9 de novembro de 2008

Registro e poder


"[...]quando pensávamos que a realidade estava sob controlo, que ela muda de novo. Mudou da Idade Média para a Idade da Razão e agora está a mudar para a Idade da Mente. Na era do livro, o controlo da linguagem foi sempre privado, mas com os media electrónicos o controlo da linguagem torna-se público e oral. Com o advento da Internet temos o primeiro meio que é oral e escrito, privado e público, individual e colectivo ao mesmo tempo. A ligação entre a mente pública e a mente privada é feita através das redes abertas e conectadas do Planeta. A reacção entre o individual e o colectivo está a mudar, assim como as regras que governam associações de indivíduos.
O processamento da informação começa com a linguagem falada. A linguagem ainda é o mais poderoso código disponível e vai permanecer como o principal pelo menos no futuro previsível. Não é só um projecto tecnológico mas também um projecto biológico, de evolução.
A espécie (humana) tem florescido com ele, faz parte do cérebro e é uma parte fisiológica do corpo humano, algo que é muito profundo e misterioso. Tudo o que afecte o desenvolvimento e crescimento da linguagem, afecta também o crescimento e desenvolvimento da inteligência.
A evolução da inteligência humana acompanha a evolução não apenas da linguagem mas ainda das tecnologias que suportam e processam a linguagem. A primeira destas tecnologias é a escrita, embora se possa conceber que a origem da linguagem tenha estado na prática da associação de sons às actividades da sobrevivência diária, é a escrita que armazena estes sons para usos mais duradouros. Ao serem fixadas pela escrita, as práticas orais pertinentes e selectivas obtiveram a consistência e a fiabilidade que permitiram ao código linguístico adquirir a oportunidade de desenvolver-se para além do uso comum. Escrever dá a capacidade aos homens para arquivar, expandir e explorar a linguagem como um controlo simbólico e prático sobre a natureza. A escrita, que é sempre o âmago de elementos específicos da civilização, parece actuar como uma espécie de “amplificador da inteligência” e dá origem a explosões repentinas na aceleração cultural.
Os códigos alfabéticos são muito mais poderosos do que os silabários porque, em vez de analisarem as línguas faladas em termos de sílabas pronunciadas, levam esta análise ao nível dos fonemas individuais. Isto reduz o número de caracteres necessários para a representação das palavras ditas e também elimina as ambiguidades nas complexas contracções silábicas. Quanto mais simples e mais fiel o código, mais poderoso se torna ao garantir um controlo consciente sobre a linguagem."


KERCKHOVE, Derrick de (1997) A Pele da Cultura; Lisboa; Relógio D´Água
Imagem: A persistência da Memória - Salvador Dali, 1952-54 - The Salvador Dalí Museum (Reynolds Morse Colection), St Petersburg, Fl, USA.

sábado, 1 de novembro de 2008

Faz-me o favor...

Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és nao vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor , muito melhor!
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.

Mário Cesariny

Dois Mundos


”Assim como a vida de Ângela, sua arte transita por dois mundos. Os vídeos, as instalações e as fotografias da artista falam da África onde nasceu [...], falam do continente que procura o seu caminho depois de séculos de colonização européia, numa trama que se confunde com a história particular de Ângela. Falam também da Europa e sua saga exploratória e suas relações com um continente então considerado selvagem.
A obra "La Maison Tropicale" ilustra bem a relação entre os tais dois mundos. A instalação, presente no pavilhão português da Bienal de Veneza de 2007, faz uma releitura de uma experiência da arquitetura moderna francesa, nos anos 1940 e 1950. O projeto do arquiteto Jean Prouvé buscava a casa ideal, com um design que fosse acessível, adequado e belo para as colônias francesas na África, uma opção considerada perfeita ao clima boa parte escaldante do continente. Foram planejadas duas mil unidades, mas apenas três foram instaladas, uma no Niger e duas no Congo. Para a os povos da África, a casa foi vista mais uma das imposições dos colonizadores brancos, como a língua e a religião vindas da Europa. A resistência cultural foi maior que a utopia.
Ângela revisitou a história e trouxe considerações sobre os processos de imposição e dialética cultural entre sociedades colonizadas e colonizadoras, discutindo também os paradigmas culturais que a África quer a si em tempos pós-coloniais.
Além de artista, Ângela é pesquisadora. Já lecionou na Universidade da Cidade do Cabo, onde se graduou em escultura, e foi professora convidada da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Possui trabalhos em coleções como a da Fundação de Serralves, no Porto, e na Fundação Calouste Gulbenkian e no Museu do Chiado, ambos em Lisboa. Seu trabalho consta ainda do acervo da South African National Gallery e na The Johannesburg Gallery, na África do Sul.
Ângela expôs ainda em galerias como a do Centro Cultural do Belém e na Filomena Soares, em Lisboa. No Brasil, já expôs no Centro Cultural São Paulo e na Galeria do Catete, no Museu da República, no Rio de Janeiro. Esteve ainda na Espanha, Inglaterra, França, Canadá, Itália e seu país natal, Moçambique. "