sexta-feira, 30 de julho de 2010

Leitura obrigatória


EZEQUIEL THEODORO DA SILVA - Cidadão brasileiro, "de luto"



"Soube, hoje, do encerramento das atividades do LEIA BRASIL. Não posso deixar de vir a público para expressar a minha imensa tristeza diante deste acontecimento. Ao mesmo tempo, para demonstrar a minha intranquilidade a respeito do destino da leitura neste país. Ao longo de minhas lutas por mais e melhores leituras para o povo brasileiro, sempre defendi a necessidade de uma "frente" constituída por uma grande - e diversa - quantidade de entidades (públicas e privadas) voltadas ao estudo e à promoção da leitura. A razão é mais do que óbvia: a vergonhosa, a horripilante paisagem que atualmente resulta dos descuidos e descasos dos governos brasileiros em relação ao desenvolvimento das práticas de leitura. Em 2010, terceiro milênio, em meio às sociedades de informação e do conhecimento, o Brasil apresenta o terceiro PIOR nível de desigualdade de renda do mundo e um quadro sombrio expressando o número de leitores reais. A ferida do analfabetismo continua estuporada. Os iletrados funcionais representam quase a metade da população do país. A débil e debilitada rede de bibliotecas (públicas e escolares) nem de leve, nem de longe alimenta a promoção da leitura. Isto tudo a despeito dos incessantes - mas descontínuos, burocratizados e depauperados - programas de enfrentamento dessa questão. Um dos efeitos básicos da leitura é a qualificação, para melhor, das decisões e ações dos indivíduos, robustecendo-lhes a cidadania. Outros países sabem disso e não perdem de vista o decisivo apoio aos trabalhos das entidades que indistintamente preservam e dinamizam os seus bens culturais escritos junto à população. No Brasil, infelizmente, ou se repete o erro de repetir políticas caolhas de apoio ao que não dá e nunca deu certo, ou se vira a cara para assistir, de camarote, talvez cinicamente rindo por dentro, à morte e ao sepultamento de importantes entidades culturais. O valor do LEIA BRASIL advém da continuidade da iniciativa pioneira de Mário de Andrade de itinerar a leitura por entre escolas e comunidades através de caminhões. Um trabalho com professores e com estudantes de toda a comunidade escolar visitada para descobrir e experimentar algumas delícias do ato de ler. Advém também de um conjunto considerável de publicações (Leituras Compartilhadas, coleções de livros, CDs, DVDs, entrevistas, filmagens, etc.), de um poderoso portal de serviços pela Internet, de significativa participação em eventos nas várias regiões do país, de estudos e pesquisas, etc. Quer dizer, a entidade consolidou, historicamente, um "patrimônio" importantíssimo sobre as dinâmicas e os processos de leitura no Brasil - um patrimônio que seguramente vai pro brejo por falta de um olhar de natureza solidária, profissional, sensível dos organismos de apoio ou de patrocínio. Não quero discutir e nem condenar as razões que levaram Jason Prado, o idealizador e coordenador do LEIA BRASIL, a essa decisão. Quero, isto sim, evidenciar aos leitores deste texto que a morte de uma entidade representa não apenas a permanência do nosso evidente atraso cultural na área, mas fundamentalmente o imenso desvio dos rumos que nos conduzem à conquista do direito à leitura, o que o fundo e à inversa, significa o alastramento da idiotice - ou muita esperteza cínica - nas esferas responsáveis pela educação e cultura no Brasil. E, por tabela ou como reflexo, o alastramento da idiotice por toda a sociedade. "

Compartilho esse texto do Professor Ezequiel Teodoro, ex secretário Municipal de Educação de Campinas e apoiador de ações de incentivo à leitura.

FONTE: http://tramasdaleitura.blogspot.com/

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Suor em ouro e...o que está em jogo?

Sentimentos mistos foram provocados no torcedor brasileiro, ontem, por esportes diferentes e com regras específicas, mas que ao final, tiveram um ponto de convergência e sobre o quail eu proponho uma reflexão.

Em princípio, PARABÉNS aos 'meninos do voley' pela garra com que defenderam as nossas cores, nos jogos da Liga Mundial do Voley masculino, finalizando em alta, com a merecida vitória.

Os talentos individuais esbanjam atributos que vão desde a técnica apurada às atitudes que demonstram garra e muita paixão, formando um coletivo forte e coeso, que ao longo do tempo vem dando exemplos de superação.

Em resposta às questões da imprensa, o técnico Bernardinho, referindo-se aos que cederam o lugar de títular a outros com melhores condições de jogo e em nome do coletivo, ressalta a importância em "ter que encontrar forças em algum lugar para seguir e lutar com elas até o fim"; parabeniza e agradece os atletas que entraram em campo ou não.
E no automobilismo...

A torcida brasileira (novamente) frustra a comemoração.
Entre perplexo e irado, o torcedor vê o piloto brasileiro permitir a ultrapassagem, abrindo o caminho da vitória ao companheiro de equipe.
Em episódio semelhante - e mesmo sepultado ao longo do tempo - esses sentimentos foram remexidos. Indignação...vergonha...revolta...
Se no primeiro caso, fica fácil entender o objetivo e as justificativas do técnico, no segundo, nos deparamos com algumas incertezas: Que esporte é esse e o que está em jogo, afinal?
Que falta nesta cidade?... Verdade.
Que mais por sua desonra?... Honra.
Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.
[...]
Quem haverá que tal pense,
Que uma câmara tão nobre,
Por ver-se mísera e pobre,
Não pode, não quer, não vence.
Poesia: Epigrama - Gregório de Mattos e Guerra

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Uivo


"Tão sérias, as coisas!
Tão sérios, os animais e as plantas!
Muito mais sérios que as pessoas.
Envoltos num sonho espesso.
Andando, comendo, crescendo - mas sempre dormindo."


Cecília Meireles - Olhinhos de Gato 1939.
Imagem: Amélie, em seu jardim noturno.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

sábado, 17 de julho de 2010

Enquanto isso no Seminário...


Nos três dias em que estivemos juntas no 5º Seminário Nacional "O professor e a leitura de jornal", Debora, Milena e eu, estabelecemos uma interação que transcendeu a relação profissional, ao falarmos de nós mesmas e de nossa condição de mulher em diferentes lugares(esposas, filhas, mães, irmãs), alguns dos quais já ocupamos e outros que virão-a-ser (até porque elas têm menos da metade da minha idade).
Atentas ao cronograma do evento, carregamos conosco além da programação, as nossas bolsas, as pastas com os blocos de anotações, textos e até agenda.
Ah, claro, quase me esqueço: havia também o inesquecível guarda-chuva da Debora que não chegamos a vê-lo em uso, mas, previnida que estava com as possíveis alterações climáticas, ela o portou durante os três dias.
Ao tomarmos assento no auditório e nos acomodarmos com nossos pertences, em seguida, Debora acomodava seu longo guarda-chuva à frente das nossas cadeiras, na horizontal, instalado no vão que se formava entre o degrau da nossa sequência de cadeiras e os pés das cadeiras da frente. Ao concluir essa tarefa, Debora desenhava, no espaço entre o polegar e o indicador (sim, nessa pele macia) um pequeno ícone que representava o seu guarda-chuva, para, evidentemente, à saída, não esquecer-se dele ali no chão.
E assim foi que, durante os três dias, entre palestras, comunicações, almoços e oficinas, lá ia a Debora com seu pequeno ícone em uma das mãos e o grande guarda-chuva seguramente garantido à sua volta, acompanhando-a fielmente. Essa cena fez escola. Adotamos, Milena e eu, o modelo e o resultado é que ao final do dia, uma de nós saía com alguma marca na mão esquerda: um livro, o nome de um evento, $, para nos lembrarmos de algum compromisso quando estivéssemos em casa.
Ao terceiro dia do evento, a conferência de encerramento foi proferida pela ilustre psicóloga Rosely Sayão. O tema atual e instigante tratava da educação e as relações escola família, adulto criança, jovem, velho, e alguns dos fenômenos que são frutos da modernidade: a invisibilidade e o esquecimento. Nesse último aspecto, cita fatos recentes de pais que esqueceram (por motivos banais, só pode ser!) seus filhos dentro de seus carros, estacionados em algum pátio de shopping center.

Nossa colega, Milena, grávida e com todos os sentidos aguçados em torno do tema, articulando a fala da palestrante aos recentes cuidados dedicados pela Debora ao precioso guarda-chuva através do modelo de 'agenda manual', profere: "Deveriam fazer o desenho do bebê na mão!"
Adoramos a palestra da Rosely que traz, de forma genuína e bem humorada, um novo olhar a temas tão desgastados e espinhosos. No entanto, inusitada mesmo foi a dica da Milena aos pais desatentos e adverte: ao deixarem seus filhos no carro, desenhem o ícone do bebê nas mãos, quem sabe assim, não esquecerão deles.
Não é brilhante?


Beijo grande, queridas.
5º Seminário Nacional “O Professor e a Leitura de Jornal”
Imagem: Releitura da imagem: Feto agarra mão de médico

sábado, 3 de julho de 2010

Ouso comentar

Por mais democratizado que esteja o futebol atualmente, a relação que o 'Brasil' tem com a bola difere de muitos outros povos. A consequência disso é que as reações diante das derrotas também sejam diferenciadas para nós, torcedores e para alguns ainda 'jogadores'.
Aliás, o termo 'jogador' já está em desuso. Hoje são chamados de 'atletas', até pelo conjunto de exigências a que se submetem para que adquiram qualidade 'técnica' visando aprimorar o que inicialmente poderia ser apenas 'talento bruto'.
Com a democratização e o acesso aos recursos tecnológicos disponíveis para se formar atletas, o investimento na formação desses se sobrepõe ao 'jogador', aquele que carrega consigo o talento.
O talento e a relação corporal com a bola, fruto da vivência e do currículo social, no contexto atual é superado e ofuscado pelos atributos que compõem o almejado atleta.
A corrida 'fácil' por esse atleta fabricado, interesse de países ricos em capital e recursos tecnológicos, gera novos objetivos. A mistura desses segundos com os primeiros, forma times híbridos, e acredito, difíceis de serem administrados. Mostra disso tivemos nessa copa, em que vimos, numa relação conflituosa, alguns talentos serem neutralizados em função das exigências do atleta, e aí, nem um nem outro ficou visível em campo, frustrando as esperanças dos torcedores crédulos.
E nós, brasileiros, será que vamos nos dar conta, em tempo, da armadilha, ao desperdiçarmos os talentos que é o que nos diferenciou durante as décadas passadas, em função da criação desses 'atletas'?

sexta-feira, 2 de julho de 2010

...fim de copa.


"Eu vou,
eu vou,
pra casa
Agora eu vou!!"
:(