domingo, 31 de agosto de 2008

Anunciando a Primavera


As nuvens douradas
Flutuam no pantanal
- florada de ipê
(Goga Masuda)

(imagem: Ipê da minha rua - foto de hoje, 31.08.2008 7:00h)

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

E se nós....


Todos somos escritores.

pensamento fugaz
olhar seletivo, elege
memória se faz


Uns escrevem:

mãos, pés e bocas
lápis, canetas, pincéis
história se fez

Outros não:

silêncios sem nome
vozes mudas, telas vazias,
quem são?

E se...

a escrita sêmen
livro, dança, tela, barro
leitores que lêem

nós...

a seu jeito
história traçada, memória lembrada
sujeito.

(Jogo de palavras, elaborado por mim, a partir de: "Todos somos escritores, uns escrevem, outros não." de José Saramago)
Imagem: Angelus Novus - Paul Klee (1932)

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Aurora sem dia...

Quem és tu que me atormentas
Com teus prazenteiros sorrisos?
Quem és tu que me apontas
As portas dos paraísos?

Imagem do céu és tu?
És filha da divindade?
Ou vens prender em teus cabelos
A minha liberdade?

(Obra Completa, de Machado de Assis, vol. II,
Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994.)

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Sentimento do mundo.


Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto de me contar.
Por isso, me dispo,
Por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.
(Carlos Drumond de Andrade)
(O grito - Edward Munch)

sábado, 23 de agosto de 2008

...lembra?


lembra o tempo
que você sentia
e sentir
era a forma mais sábia
de saber
e você nem sabia?


Alice Ruiz.
Imagem: Cícero Dias

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Esculpir o tempo


... [...] a liberdade não pode ser uma coisa gratuita, como a água de uma fonte, que não custa um centavo e não exige de ninguém qualquer esforço moral; se é assim que o homem vê as coisas, ele jamais poderá usar as vantagens oferecidas pela liberdade para mudar sua vida para melhor. A liberdade não é uma coisa que se possa incorporar de uma vez por toda à vida de um homem: deve ser constantemente conquistada através de um esforço moral. Em relação ao mundo exterior, o homem não desfruta, essencialmente, de liberdade alguma, pois não está sozinho; a liberdade interior, porém, é algo que ele já tem desde o início, desde que tenha a coragem e a determinação de usá-la, aceitando o fato de que sua experiência interior tem importância social. (pág. 283)
In "Esculpir o tempo", tradução de Jefferson Luiz Camargo, Livraria Martins Fontes Editora Ltda., São Paulo, 2002.
Foto: Teia (Riacho Grande)

terça-feira, 19 de agosto de 2008

segunda-feira, 18 de agosto de 2008


casca oca
a cigarra
cantou-se toda
(M. Bashô)

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

É só (re) começar...

ninguém precisa
ter talento
p'ra transformar
caso em descaso

já o contrário
é que é o caso
se você não tem, lamento
é preciso ser forte
é preciso ser fraco
é preciso ganhar
e perder o juízo

sai dessa pose
pára de pensar no prejuízo
e segue em frente
tem hora p'ra chegar
tem hora p'ra se afastar
não sabe como?
é só começar

(Alice Ruiz)
Foto: Parque em Barão Geraldo

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Eu não escrevo Hai-Kai


Noite enorme
Tudo dorme
Menos teu nome.
(Paulo Leminski)

"Haikai não é síntese, no sentido de dizer o máximo com o mínimo de palavras. É antes a arte de, com o mínimo, obter o suficiente". (Paulo Franchetti)
Foto: Saco da Ribeira, Ubatuba

quarta-feira, 6 de agosto de 2008


A rosa de Hiroxima


Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa, da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

Vinícius de Moraes

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Aqui...

Aqui, deposta enfim a minha imagem,
Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem,
No interior das coisas canto nua.

Aqui livre sou eu - eco da lua
E dos jardins, os gestos recebidos
E o tumulto dos gestos pressentidos,
Aqui sou eu em tudo quanto amei.

Não por aquilo que só atravessei,
Não pelo meu rumor que só perdi,
Não pelos incertos atos que vivi,

Mas por tudo de quanto ressoei
E em cujo amor de amor me eternizei.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)