sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Aqui...

Aqui, deposta enfim a minha imagem,
Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem,
No interior das coisas canto nua.

Aqui livre sou eu - eco da lua
E dos jardins, os gestos recebidos
E o tumulto dos gestos pressentidos,
Aqui sou eu em tudo quanto amei.

Não por aquilo que só atravessei,
Não pelo meu rumor que só perdi,
Não pelos incertos atos que vivi,

Mas por tudo de quanto ressoei
E em cujo amor de amor me eternizei.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

Um comentário:

  1. Da Sophia não se pode esperar outra coisa que não seja algo bonito e tambem melancolico, confuso e metaforico.
    Dificil de entender ou de desdobrar, escrito certamente numa altura muito propria e seleccionado por voce tambem num momento muito proprio.
    Este poema é daqueles que temos que ler e reler varias vezes para chegar ao colorido de cada silaba e ao recheio que cada letra transporta, pela minha parte digo que li e voltei a ler e ... não quero ler mais !

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