segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Bem atual, esse Bilac



Vila Rica

O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre;
Sangram, em laivos de ouro, as minas, que a ambição
Na torturada entranha abriu da terra nobre:
E cada cicatriz brilha como um brasão.

O ângelus plange ao longe em doloroso dobre.
O último ouro de sol morre na cerração.
E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre,
O crepúsculo cai como uma extrema-unção.

Agora, para além do cerro, o céu parece
Feito de um ouro ancião que o tempo enegreceu...
A neblina, roçando o chão, cicia, em prece,

Como uma procissão espectral que se move...
Dobra o sino... Soluça um verso de Dirceu...
Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.



Olavo Bilac (1865-1918): em seus poemas há uma combinação da tradição clássica portuguesa com o parnasianismo francês, refundida por um ardente temperamento plástico e retórico, no qual também se destaca a perfeição formal, seja na pureza da língua seja na habilidade da versificação.

http://educacao.uol.com.br/portugues/parnasianismo.jhtm
Imagem:Releitura de Mineiros

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