domingo, 2 de março de 2008

Arte para evocar III


A atividade de acolhimento ocorrida na penúltima reunião na escola, foi realizado pela professora Stela de artes. A proposta inicial de apreciação de algumas obras de Portinari, teve o objetivo de nos sensibilizar para que, através das mesmas, observássemos os elementos que as compunham e em uma leitura mais apurada, revelássemos a interpretação que fazíamos de cada uma. Essas obras, especialmente escolhidas, tinham como elemento comum, um baú.

Em seguida, em uma analogia entre o baú das telas de Portinari com o nosso 'baú', devíamos representar através de colagem o que continha nele que nos marcou na nossa constituição até então.
Revisitei, então, o meu baú, cuidadosamente colocado em algum lugar em que a minha história se apropriou e passou a chamá-lo de passado.
Remexendo nos 'guardados' vi meu próprio movimento como professora e, em especial, na estratégia da professora Stela, as experiências vividas como professora de Artes. Revi-me como alguém que sempre buscou na arte o caminho para 'evocar' (gosto dessa palavra e vou me servir dela muitas vezes) e deflagrar sentidos nas crianças e adolescentes.
Evocar sentimentos, evocar memórias, evocar vivências, evocar conflitos, evocar alegrias, evocar dilemas... Como os sujeitos se percebem e como percebem o mundo; traduzir para compartilhar e poder atribuir novos sentidos às novas maneiras de relações que ali se estabelecia.
Meu baú revelou-me nas diferentes manifestações dos alunos. Agora desfilam na minha memória, compondo um imenso portfólio de imagens dinâmicas, vivas, trazendo a presença de rostos entre desenhos, cartazes, figurinos, mais rostos, máscaras, crianças, vozes, sons... as músicas, as danças, entrelaçando diferentes linguagens exploradas através das artes visuais, da música, da poesia, da dança ou teatro.

No movimento de me rever professora, alternei-me como 'aluna', que é a condição que mais gosto de estar. Rever-me como aluna, me reportou ao meu tempo de aluna de ginásio, nos idos dos anos 70, onde o sistema educacional, velado pela ditadura, tinha uma estrutura fixa e a aula de arte era 'não-aula'. Com a negação desse espaço, era para 'refrescar' as aulas mais cansativas, assim, esse recheio tinha o caráter de artesanato ou artes 'manuais' julgando que a mente estava dissociada das mãos: crochê, bordado, pintura em tecido para as meninas e artesanato em madeira, feito em oficina, para os meninos.

Assim, rever-me como 'não aluna' de artes, foi definitivo na minha opção por ser professora de artes: eu tinha claro que tipo de professora eu NÃO queria ser, o que me mobilizou por certo, a percorrer novos caminhos na minha trajetória de professora construtura de meu percurso.

Feita essa rápida passagem, volto a me sentir aluna presente, aluna do dia-a-dia. Todavia, percebo que as mudanças nas estratégias não são por acaso: elas fazem parte de novos pressupostos sobre como pensamos a escola, a sociedade, a criança, o adolescente e a relação de tudo isso com o que chamamos formalmente de 'currículo'.

A Arte mudou. Nós mudamos. A escola (lentamente) está mudando.

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