sexta-feira, 7 de março de 2008

Uma lição de menino.

Meu filho me contava que hoje, enquanto iam pra escola, faziam uma brincadeira de achar peruas 'kombi' (talvez tenham eleito a Kombi por ser um carro quase raro, ou menos comum, depois de ter sido superada pelas vans no transporte escolar, mas isso nem perguntei).
A brincadeira consiste no seguinte: de um a vinte, vence quem chegar aos vinte primeiro, apontando as kombis que vai localizando no percurso até chegar à escola. Se apontar a mesma duas vezes, perde um ponto. Meu filho, com 12 anos já se percebe desatento para as kombis e me diz: - Mãe, você não imagina quantas kombis a gente viu!! Um viu 17 e o outro 19. Considerando que ambos não poderiam contar duas vezes a mesma, num percurso de 5 km, é um universo a ser considerado: 36 kombis. Surpresas à parte, meninos têm essa capacidade lúdica de transformar em diversão o tédio, assim, lançaram mão dessa, mas poderiam ter inventado qualquer outra brincadeira para tornar a curta viagem, menor ainda e de forma divertida, aproveitar a companhia dos colegas enquanto não adentrassem no sisudo espaço escolar.
Eu, que acompanhava a empolgação do meu filho ao me contar sobre o 'jogo', fui pensando então, em 'por que será que esse menino, de 12 anos, já se surpreende ao ver as kombis somente em casos em que ela tenha que se destacar dos demais veículos, como era a situação proposta pelo jogo? E lancei a pergunta: Por que você acha que, em uma situação comum, que não essa do jogo, a gente passa pelas kombis e não as percebe? E ele: - É o 'piloto-automático', como no filme CLICK. Eu fiz também uma comparação, quando da minha gravidez: nunca tinha visto tanta mulher grávida como naquela época; nunca as imagens de bebês, as reportagens sobre gravidez e maternidade, se mostravam tão evidentes pra mim.
Conclusão: devemos nos sensibilizar e enfatizar algumas coisas simples e comuns do cotidiano, para retomarmos as rédeas do nosso caminho. Nas coisas simples está a possibilidade de recuperarmos a visibilidade no dia-a-dia e permitir que elas tenham vez em nosso olhar viciado. Se não for assim, cada vez mais cedo delegaremos a condução da nossa vida ao piloto-automático, como no filme CLICK.

Um comentário:

  1. È uma realidade que apenas ficamos atentos a certas situações que passam nos nossos olhos se estivermos minimamente motivados para elas , como o exemplo dado pelo período da gravidez .
    Mas ao ler a brincadeira de seu filho e dos seus amigos lembrei-me dos meus tempos de caminhada para a escola em que a nossa brincadeira ( éramos 3 na caminhada ) era ver a chapa da matricula dos carros que naquele tempo era composta da seguinte forma :
    XX- 00-00 ou seja duas letras – dois números – dois números e o jogo era somar os algarismos fazer a prova dos 9 e ganhava o que tinha resultado maior .
    Hoje esse jogo era impensável , primeiro porque penso que a chamada prova dos nove já não faz parte do currículo escolar e segundo o ritmo de carros que vai passando é de tal forma elevado que o jogo quase não fazia sentido , naquele tempo por vezes tínhamos que ir caminhando na expectativa de passar um carro e por vezes ficávamos na porta da escola á espera de mais um para fazer o desempate .
    Voltando ao primeiro paragrafo penso que o facto de vivermos numa correria demasiada faz cada vez nos manter-mos distantes daquilo que nos rodeia e por isso desmotivados de pequenas situações quotidianas para os quais devíamos estar mais atentos .

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