quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

"Papai Noel, neste Natal eu queria te pedir..."

"Para mim, a chuva no telhado é cantiga de ninar.'
Essa música é de um tempo em que os meus ideais de solidariedade, igualdade e fraternidade, ingenuamente me comoviam e me mobilizavam para mudar o mundo muito mais do que hoje.
Em tempos atuais, nessa época, sobretudo, no momento de preparar as comidas natalinas, penso nos menos favorecidos e naqueles que não têm mesmo o que comer. Esse pensamento me incomoda (fazendo aqui o 'mea culpa') porque me oriento por alguns princípios, defendo alguns valores, contudo, à medida em que o tempo passa
as minhas ações individualizadas na luta diária pela sobrevivência, me distanciaram daqueles ideais coletivos.
Ontem pela manhã, em conversa com um amigo de Portugal (Santarém) veio a pergunta inevitável (e até leviana, confesso) sobre como havia sido a sua Noite de Natal.
Ele, que viveu a infância em Angola, seu país de origem, respondeu que foi normal; criticou o consumo exagerado dessa época e lamentou a situação de muitas pessoas que 'não têm um prato de sopa para tomar'.
Entretanto, ele disse isso sem especificar em que cidade, em que país e tanto ele quanto eu sabemos que esse é um problema mundial, portanto não se faz necessário dar nomes porque a fome não tem identidade.
A nossa conversa rolou em torno disso, com a idéia transitando entre a ação, o fracasso, a queixa que paralisa, a impotência real, as responsabilidades, as desculpas verdadeiras, etc. O assunto ia orbitando nas instâncias macro e micro, sobre o que nos compete fazer no nosso universo que possa vir a mudar algo sem que isso represente uma maneira de responsabilizar os 'outros'.
Atrevemo-nos a dizer(!) o que compete e a quem compete fazer para mudar esse quadro no macro sistema. Nosso exercício foi longe. Nos colocamos no lugar de políticos e apontamos a corrupção como a possível causa dos governos mal sucedidos, mas ambos sabemos que a crise é mais moral, de (des)valorização da vida e menos, muito menos político-partidária.
Hoje (enquanto procurava receita de rabanada na internet para aproveitar sobrinhas de pão), dentre tantas informações e dados sobre como foi o feriado de Natal, chamou a minha atenção a notícia que tratava do tema abordado ontem com meu amigo.
No Brasil os índices apontam explosão no consumo, mas o que enganosamente poderia nos conduzir à idéia de crescimento do país (como explicar o contraponto?), nas cartinhas endereçadas ao Papai Noel, coletadas pelos serviços de Correios, em muitas delas os pedidos eram apenas de...
comida.

A reflexão 'pós Natal' que deixo aqui hoje(dia de queimar as calorias adquiridas pelo excesso de consumo dos comes-e-bebes) é de que vale a pena fazer uma pausa, respirar fundo e pensar que ainda é possível reescrever as histórias dos remetentes das cartinhas que virão.

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