sexta-feira, 10 de abril de 2009

Salve, Salve, torrão andreense...


O que a história não conta:
Vim para Santo André com a família, ou melhor, a segunda parte da família porque era costume da época, o pai vir antes e instalar-se, para, só depois, voltar pro 'interior' pra buscar os demais. No nosso caso, ele trouxe consigo as três filhas mais velhas (ou elas o trouxeram, porque a iniciativa da mudança partiu delas). Só após estarem todos empregados é que ele retornou a Itápolis para nos buscar: minha mãe, meus dois irmãos, duas irmãs e eu. Assim, em meados de 1964, partimos de Itápolis para Santo André, numa longa viagem de trem, trazendo nas mãos os nossos poucos pertences. Todos juntos, reproduzíamos, como tantas outras famílias a imagem de migrantes em busca de novas oportunidades.
A primeira casa, na rua de terra, mesmo pequena, era quase vazia, com poucos móveis e sem história. Assim permaneceu durante muito tempo, com nossas roupas amontoadas nos cantos, como nós, por sermos tantos em tão pouco espaço. De dia, durante o curto período de sol, nós, os menores íamos à escola e ao retornar, nos espalhávamos pelo quintal. À tardezinha, sob o céu cinzento pela garoa fina que vinha da serra do mar, nos recolhíamos e nos juntávamos novamente aos adultos que retornavam do trabalho.
Em dias de chuva forte, minha mãe nos contava histórias da saga da sua família, pra nos acalmar e nos manter reunidos em torno dela, mulher corajosa, mas que temia relâmpagos e trovões. Nessas histórias, sabiamente, os dramas familiares eram sempre mais graves do que aquela situação de provisoriedade que estávamos vivendo. Fazia isso, talvez, para nos confortar e manter viva em si mesma a esperança na qual ela sempre se apoiara para equilibrar os sonhos e a realidade, ao ir em busca de dias melhores.
Diferente dela, calado e retraído, com uma ligação profunda com a terra, muitas vezes vi meu pai sentado no chão do outro lado da rua, em frente de nossa casa, com ar distraído e pensamento distante. Naquele tempo eu não entendia que ele já antecipava nos olhos uma grande tristeza que ia nos acontecer num futuro não muito distante daquele tempo.
Comemoramos muito quando mudamos para outra casa, na mesma rua e maior que a primeira. Aí, sim...já tinha quartos para os filhos, para as filhas, para os pais. Aos poucos fomos preenchendo os espaços com 'coisas', algumas delas nos intrigavam, ao mesmo tempo que traziam alegria e diversão: televisão, geladeira, vitrolinha portátil, máquina fotográfica e outras, nem tanto, como a panela de pressão - que nos amedrontava pelo ruído e o movimento da válvula que girava...girava... como se tivesse vida própria.
Sem nos darmos conta, fomos incorporando esse ritmo, essa rapidez, esse gira-gira, e nos adaptando aos ruídos que aos poucos invadiam a nossa rua, a vila, transformando aquele lugar mágico em cidade. Crescemos com ela. Fizemos juntos o trajeto do milagre econômico. Sobre os vestígios do rural, construímos o urbano de forma ingênua, empurrados pelas forças ocultas da história.
Seis anos de idade eu tinha quando chegamos. Meus irmãos, irmãs e os amigos que eram filhos dos poucos moradores que havia na nossa rua, fomos, como os nossos pais e os pais deles, os desbravadores daquelas terras da Villa Valparaiso. Viver ali a minha infância e adolescência me fez desenvolver uma relação de profundo carinho com essa cidade.
As ligações afetivas com a rua em que morei, os quintais onde vivi a infância, as escolas onde estudei, construiram imagens de uma arquitetura que atravessou a minha história. Essas imagens são sustentadas por fios que compõem a trama da minha vida, cujo álbum já vai meio amarelado pelo tempo, mas que ao revisitá-lo, encontro pessoas queridas que foram determinantes na minha constituição como pessoa.
No início dos anos 80, movidos por outras paixões, mudamos de lá, mas essa é(ou poderá ser) a continuação dessa história.


Hino a Santo André

Santo André livre terra querida,
Forja ardente de amor e trabalho,
Em teu solo semeias a vida,
Em teus lares há pão e agasalho

Estribilho
Salve, salve, torrão andreense
Gigantesco viveiro industrial!
Teu formoso destino pertence
Aos que lutam por um ideal!

Três figuras de heróis bandeirantes:
Isabel, o cacique e o reinol
Constituíram os troncos gigantes
Das famílias paulistas de escol.

Estribilho

Se tu foste, no início, um castigo,
Hoje és benção dos céus sobre nós.
Santo André, o teu nome bendigo,
berço e tumba de nossos avós.

Estribilho

Eia pois, a caminho da glória,
Santo André do herói quinhentista!
Tu serás para sempre na história,
marco zero da história paulista!

Estribilho


O Hino a Santo André foi oficializado pela Lei Municipal nº 541, de 16 de fevereiro de 1950, com letra do Professor José Amaral Wagner e música de Luiz Carlos da Fonseca e Castro. Ouça:
http://www.youtube.com/watch?v=T5aqw_9_Vag
Imagem: Estrada de ferro de São Paulo Railway,1930 - Museu de Santo André.

2 comentários:

  1. Fantastico post , cheio de vida e ao mesmo tempo sentindo o amarelo das recordações antigas.
    Sei que vai requerer alguma coragem para desenterrar emoções e saudades de uma infançia e juventude, mas que não te falte a força para dares continuidade a este post.

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